Os livros provam que os seres humanos são capazes de fazer magia, escreveu Carl Sagan num livro luminoso, Cosmos. Magia com a leitura, a ciência, o conhecimento. E disse mais: disse que o conhecimento e a solidariedade são o único futuro possível para a Humanidade.
A leitura, o livro, a liberdade, a democracia cresceram juntos. O mapa da expansão do livro e da leitura na Europa é o do milagre do desenvolvimento. A linha divisória que no século XVI separou a realidade dos países que aprenderam cedo a ler dos que aprenderam tarde continua hoje a dividir os europeus. Portugal estava e continua a estar do lado errado dessa linha.
O conhecimento, a escola, não são porventura condição suficiente do comportamento económico moderno, do espírito empreendedor; mas são seguramente condição necessária, hoje mais do que nunca. A inovação e uma rede de trocas, são antes de mais, uma rede de conhecimento e informação.
Com alguns amigos, conquistámos há cerca de 20 anos a divulgação dos resultados escolares, então deliberadamente ocultados. E viu-se a verdade sobre a escola que impunham ao país. Mais foi impossível vencer a moda infecciosa da anti-escola que alastrava, e que contaminou todos os governos de todos os partidos. Com a breve e sempre sabotada contramaré de Passos Coelho e Nuno Crato, que logo mudou os resultados cá dentro e nas provas de avaliação internacional. Mas foi sol de pouca dura.
Destruídos esses progressos, os resultados acabados de publicar revelam o descalabro total da escola pública.
Como é possível que o país fique indiferente a tal tragédia?
Esta anti-escola, a ausência de exigência e amolecimento da vontade e da ambição, tinham de ter consequências na sociedade e na economia do país – de onde vêm, afinal, todos os recursos.
Portugal entrou na então CEE em 1986, e passou a beneficiar de transferências para a chamada ‘política de coesão’, cujo objetivo era aproximar economicamente todos os países. A esse título tem recebido diariamente, em média, nestes 34 anos, 9 milhões de euros!
Ora, em 1986 estávamos a 77% da média da CEE em PIB corrigido para poder de compra, e hoje estamos a 74%. E este valor ainda é pior do que parece, pois em 2004 entraram muitos países pobres e muito pobres, que baixaram a média – designadamente os três bálticos, Eslováquia, Polónia, Hungria, Eslovénia, Chipre, Croácia, Roménia e Bulgária, que tinham rendimentos entre 30 a 50% da UE. Dos que entraram em 2004, só a República Checa e Malta estavam próximos de Portugal.
A prestação de Portugal é hoje, a par da Grécia, a pior de todas.
E como a genética não nos faz piores, a explicação remete para a falta dessa escola cuja esperança a liberdade trouxe, mas que os políticos frustraram.
*Com Adelino Carvalho