Lisboa continua a ser o foco e DGS garante que não há “casos perdidos”

Grande Lisboa continua a registar a maioria dos novos casos, com abrandamento face à semana passada. DGS garante que não há casos perdidos apesar de não estarem atribuídos a concelhos.

Lisboa continua a concentrar a maioria de novos casos de covid-19 e a ter de quebrar cadeias de transmissão. Esta quarta-feira foram registados 252 casos no país, 219 na região de Lisboa e Vale do Tejo. São mais do que nos últimos dois dias, em que o número de diagnóstico caiu para o patamar dos 100, mas mantém-se a tendência de abrandamento face à semana passada, que de acordo com os boletins da DGS se estende ao resto do país. Apesar de a equipa do INSA ter estimado que a região do Algarve tem neste momento o maior índice de contágio, com o RT acima de 1, a região tem reportado menos de 10 casos por dia, menos do que na semana passada.

Na conferência de imprensa, a secretária de Estado Adjunta da Saúde disse que a tendência geral é encorajadora, inclusive em Sintra, o concelho que tem tido mais novos casos, e reforça o trabalho que tem sido feito pelas equipas multidisciplinares. Não foi no entanto divulgada informação por concelho, que passou a só ter uma atualização semanal.

Questionada sobre o facto de o número total de casos confirmados no país não coincidir com os casos distribuídos pelos concelhos, depois de a Sábado ter noticiado de que a DGS não sabe do paradeiro de 5 mil infectados, o subdiretor geral da Saúde garantiu que não há casos perdidos. Diogo Cruz indicou que os casos por concelho só incluem notificações feitas pelos médicos na plataforma SINAVE, como referem as notas de rodapé do boletim, uma regra alterada em março.

“Os casos não estão perdidos, só não os estamos a colocar nos boletins. Estamos a tentar notificar o mais rapidamente possível os casos que temos”, disse, referindo-se aos totais nacionais e recordando que no início da pandemia a lista de casos por concelhos incluía os casos notificados pelos laboratórios de análises, mas posteriormente o mesmo caso podia ser notificado pelos médicos, o que levava a que o total de casos de concelhos mudasse porque na notificação do laboratório é indicada a morada do laboratório e não a do doente. “Para evitar oscilações, a opção foi usar apenas as notificações médicas. É diferente de dizer que estão perdidos, as autoridades sabem onde estão. Há concelhos que nunca teriam casos por não terem laboratórios e outros seriam francamente prejudicados”, argumentou.

Fica por perceber se os casos que ainda não foram atribuídos a concelhos já foram contactados e se são casos ativos ou não. Portugal passou ontem a barreira das 49 mil infeções, das quais 13 332 são casos ativos, uma ligeira diminuição face ao dia anterior. No pico da epidemia, em abril, o país chegou a registar mais de 23 mil casos ativos. O mínimo a que baixou, em maio, foi a 11 758 casos ativos. Com o aumento dos casos em Lisboa, as infeções ativas tornaram a subir e registam agora uma quebra ainda ligeira. O número de doentes internados desceu ontem para 439. Apesar das oscilações diárias, tem-se mantido no mesmo patamar.

Os alertas da austrália

Depois de a DGS ter anunciado na semana passada que a Austrália, onde as infeções têm estado a aumentar desde junho, será um dos países de referências para o que esperar da epidemia de covid-19 no inverno, investigadores australianos recusaram ao SOL que o ressurgimento de casos tenha a ver com a mudança de estação, apontando antes para falhas no combate à epidemia. “O alastrar não é devido a nós estarmos no inverno”, disse ao SOL Ian Mackay, professor de Virologia na Universidade de Queensland. “Erros humanos acontecem, é por isso que ocorrem surtos e epidemias. Mas um patogéneo oportunista como o SARS-CoV-2 vai explorar esses erros sempre que acontecerem”, comentou ainda o especialista.

Questionado ontem sobre esta leitura dos académicos australianos, o subdiretor-geral da Saúde não respondeu diretamente e sublinhou que a DGS tem uma equipa que faz “varreduras diárias” do que se passa no mundo para detetar ameaças para o país, mantendo a ideia de que a Austrália, por ter o inverno seis meses mais cedo do que Portugal e um sistema de informação robusto, será sempre um barómetro, mas não o único. Diogo Cruz defendeu que o facto de a epidemia se estar a manifestar no verão é uma das diferenças mais imediatas em relação ao vírus da influenza. Uma situação que tem sido apontada por investigadores como uma das consequências de se tratar do primeiro contacto da população com um vírus. Sem defesas, naturais ou de uma vacina, o facto de a maioria da população ser suscetível propicia o alastrar do vírus. 

Esta quarta-feira, a Organização Mundial de Saúde assumiu a preocupação com as epidemias nos Balcãs e no Sul da Europa, apesar do epicentro da epidemia se manter na América. “Apesar de na Europa Ocidental a doença estar sob controlo, ainda temos algumas tendências preocupantes no sul da Europa e nos Balcãs, por isso ainda não estamos fora de perigo no ambiente europeu”, afirmou Mike Ryan, defendendo “vigilância sustentada”. No briefing diário, Jamila Madeira garantiu que o país está a fazer uma média de 13 mil testes diários, acima do mês passado.