Candidatos pró-democracia proibidos de participar nas eleições em Hong Kong

Ainda no mesmo dia, quatro indivíduos foram detidos em casa por criticarem o Governo na internet.

Em Hong Kong continuam a registar-se atentados à democracia e liberdade de expressão. O mais recente ataque aconteceu ontem, quando 12 candidatos pró-democracia de Hong Kong foram desqualificados para concorrerem às eleições de setembro.

A notícia foi avançada pelo Executivo da região administrativa especial que, através de um comunicado, revelou que “o Governo defende a decisão […] de invalidar as 12 candidaturas às eleições do Conselho Legislativo”.

Os partidos pró-democracia em Hong Kong realizaram em julho primárias, que contaram com a participação de 600 pessoas, para nomearem os seus candidatos para as eleições parlamentares. Contudo, estas foram consideradas ilegais pelas autoridades da República Popular da China.

Entre os candidatos estavam figuras como Joshua Wong, ativista conhecido como o organizador da Revolução dos Guarda-Chuvas, em 2014, e antigo secretário-geral da extinta organização política Demosisto, ou o deputado e líder do Partido Cívico Alvin Yeung.

“Acabam de vetar o meu nome para as eleições do Conselho Legislativo apesar de ser o vencedor das primárias (…)”, podia ler-se no Twitter de Wong. “Pequim está a levar a cabo a maior repressão contra as eleições na cidade ao desqualificar desta forma quase todos os candidatos pró-democracia”.

De acordo com o Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong, a medida sobre estes 12 candidatos foi tomada porque “não apresentaram devidamente assinada a declaração em que se comprometem a proteger a Lei Básica e a jurar lealdade à República Popular da China”.

A autoridade eleitoral considera que aqueles que defendem a independência de Hong Kong, que pedem a outros países para intervir nos assuntos locais ou que se neguem a aceitar que a região é território sob soberania de Pequim e que se oponham à Lei de Segurança Nacional “não podem proteger a Lei Básica de forma honesta”.

As eleições estão marcadas para o dia 6 de setembro, mas podem vir a ser adiadas para 2021 por causa de uma “nova vaga” de covid-19.

 

Detenções caseiras Esta notícia surge no mesmo dia em que a polícia de Hong Kong fez as primeiras grandes detenções sob a nova lei de segurança nacional, ao prender quatro jovens por suspeita de incitação à secessão.

Os detidos são três homens e uma mulher, com idades compreendidas entre os 16 e 21 anos, que viram os seus computadores, telemóveis e documentos serem apreendidos e podem vir a ser julgados na China continental, onde o poder judicial pertence ao Partido Comunista chinês.

Segundo a polícia, a razão para estas detenções reside em comentários feitos nas redes sociais desde que a lei entrou em vigor e que exigiam a independência de Hong Kong, um território chinês semiautónomo.

“As nossas fontes e investigações mostram que este grupo anunciou recentemente nas redes sociais a criação de uma organização a favor da independência de Hong Kong”, declarou Li Kwai-wah, superintendente sénior de uma unidade recém-formada para fazer cumprir a lei de segurança nacional. “Eles dizem que querem estabelecer a República de Hong Kong e que lutarão sem reservas por ela. Disseram também que querem unir todos os grupos pró-independência de Hong Kong para esse propósito”.

 

Professor “mártir”

Benny Tai, professor universitário e figura proeminente do movimento pró-democracia de Hong Kong, revelou esta quarta-feira que foi afastado por uma comissão disciplinar da Universidade de Hong Kong, depois de já ter sido preso, no ano passado, por participar nos protestos em defesa de direitos, liberdades e garantias.

Benny Tai apelou através do seu Facebook a que a chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong impedisse o processo de demissão. “Carrie Lam não pode alhear-se das responsabilidades que tem na erosão das liberdades académicas em Hong Kong”, escreveu, acusando ainda Pequim de pressão direta na decisão da universidade.

A demissão do académico provocou consternação e indignação entre os ativistas de Hong Kong. “Benny Tai é um mártir da desobediência civil”, afirmou Joseph Chan, professor de Ciências Políticas da Universidade de Hong Kong através do Facebook.