¿Por qué no se callan?

A carta de Juan Carlos a Felipe VI revela a nobreza de quem não quer fugir à Justiça nem deixar que os seus erros ponham em causa a Casa Real e Espanha.

Juan Carlos, envolvido numa série de escândalos de diversa índole – do foro pessoal, com a sua relação extraconjugal com a alemã Corinna Larsen, e do foro fiscal e/ou criminal, com suspeitas de tráfico de influências e corrupção, fuga ao fisco e branqueamento de capitais -, resolveu comunicar ao seu sucessor no trono espanhol, Filipe VI, que deixa o Palácio da Zarzuela e o reino de Espanha, mantendo-se, porém, disponível para as diligências  que o Ministério Público entender.

A iniciativa do Rei emérito de Espanha tem um objetivo primordial: desonerar a Casa Real espanhola, Filipe VI em particular e a monarquia em geral, dos erros cometidos na fase final do seu reinado – ainda que as ‘prendas’ (como os milhões que lhe terão sido ofertados por um monarca da Arábia Saudita) ou as relações extraconjugais, como a que manteve com Corinna Larsen, não sejam propriamente inéditas na história das monarquias europeias.

A carta em que Juan Carlos comunica a Felipe VI a sua intenção de deixar Espanha é, aliás, bem reveladora da nobreza deste ato do Rei emérito – apesar de logo transformada numa espécie de tentativa de fuga à Justiça, quer pelos seus detratores, quer pelos republicanos mais fundamentalistas da península ibérica – tanto espanhóis como portugueses (e muitos sem qualquer relação nem gosto pelo país vizinho e irmão).

Porque os escândalos em que se enredou o Rei emérito logo foram aproveitados para um fortíssimo ataque à monarquia e ao regime, não apenas por esses republicanos fundamentalistas mas também pelos nacionalistas de várias províncias espanholas que sabem que o Rei é ainda hoje o maior símbolo e fator unificador de toda a Espanha.

Estive quase cinco meses em Barcelona em 1992,  por ocasião dos Jogos Olímpicos de verão de que aquela cidade foi palco e, já na altura, o movimento nacionalista estava bem organizado e implantado na sociedade da Catalunha – o Comité Olímpico Internacional teve mesmo de ceder à pretensão das autoridades locais de ter no catalão, a par do castelhano, uma das línguas oficiais dos Jogos e da Rádio Olímpica (em que tive o privilégio de trabalhar, a convite do mais português dos catalães, o jornalista Ramon Font).

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