Henrique Neto. “Já se viu que a geringonça é inimiga da economia”

Henrique Neto prevê uma crise económica e social ‘muito séria’ e considera que o plano de Costa Silva ‘não responde às necessidades do país’. Desafia Ana Gomes a avançar com uma candidatura à Presidência da República e votará em branco se a socialista ficar em casa. 

Fomos apanhados de surpresa por por uma situação que está a causar danos sérios na economia e a nível social. Como avalia a reação do Governo à pandemia?

A reação foi atrasada tendo em conta o que já se sabia da China e da Itália. Não se regulou, como se devia, o regresso dos cidadãos portugueses que estavam na Itália em feiras e missões comerciais, o que gerou o primeiro surto no norte do país.

A economia portuguesa já está a ser fortemente penalizada por causa das restrições impostas pela pandemia. Até que ponto é que o país vai sofrer a nível económico e social com esta situação?

Depende muito da duração da crise epidémica, ou de haver uma vacina. Mas é previsível que vamos ter uma muito séria crise económica e social, esta última já muito grave neste momento.

Vai ser uma crise difícil de ultrapassar?

Não seria excessivamente difícil se optássemos por três objetivos: industrialização, exportações e investimento estrangeiro. Agora com devaneios de investimento de capital intensivo que criam poucos empregos, como o hidrogénio, não vamos lá. 

Qual é a sua opinião sobre o plano apresentado por António Costa Silva?

Não responde às necessidades do país, que precisa antes de uma definição estratégica semelhante à do Japão em 1946, de forma a que todos os portugueses compreendam de forma simples para onde devemos ir. O plano é feito por uma pessoa que é obviamente conhecedora e culta, mas que produziu um catálogo tipo IKEA em que cada português pode escolher a receita. Não é esta a solução. Ou seja, não há, como não houve ao longo dos últimos vinte anos, sentido de direção.

Acredita que existem condições para aplicarmos melhores os fundos europeus do que no passado?

Haver, há, mas não acredito que o façam. Existe muita ignorância e muita ganância no poder político e não existem níveis mínimos de transparência e de participação da sociedade civil, para que exista um necessário trabalho de equipa. Veja o que acontece na ferrovia, o Governo não ouve ninguém e segue em frente para um desastre anunciado.

António Costa desafiou a esquerda para um acordo duradouro e sólido. Há condições políticas para enfrentar esta crise com um governo minoritário?

O problema não é se o Governo é maioritário ou minoritário, mas se sabe governar bem. Pelo que tenho visto, estamos muito longe disso.

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