O rapto dos nossos “avós”!

Como todos sabemos, os idosos, tal como as crianças, são presas fáceis para os agressores. Devido à sua extrema fragilidade, são vítimas de “raptos” pelos seus próprios filhos/as, e feitos reféns de maus-tratos, de agressões e de negligência extrema. São as presas fáceis dos predadores da violência doméstica! 

“A Organização Mundial de Saúde refere que Portugal é o 5º país dentro dos 53 países que compõem o estudo, que menos investe nos idosos e é o 5º país com maior taxa de agressões perpetradas aos mesmos. Em 2013 registaram-se 774 casos de violência contra idosos. Em 2016 os números aumentaram para 1.009 vítimas.” Nada disto me surpreende. Nós não sabemos ao certo a quantidade de idosos  raptados pelos seus próprios filhos/as, de modo por exemplo a poderem receber as suas pensões. Não sabemos a quantidade de idosos raptados nas suas próprias casas, devido ao facto dos seus filhos serem puramente maquiavélicos e não quererem suportar o fardo da sua velhice. Chegamos à triste conclusão que os laços de sangue são de facto os laços da morte para muitos idosos que vivem em ambiente de sacrifício e tortura. Ao nível do código penal, só podemos enquadrar os idosos no âmbito do crime de violência doméstica se estes coabitarem com o agressor, ao contrário do elenco da maior parte das outras vítimas deste crime (cônjuge, ex-cônjuge, namorado, ex-namorado, unido ou ex-unido de facto, progenitor de descendente comum em primeiro grau, por exemplo), onde não se exige a coabitação. No entanto, o idoso pode estar “raptado” sem o seu carrasco conviver na mesma casa com ele. Os idosos estão assim, estranhamente, desprotegidos, porque podem ser “raptados” e agredidos sem coabitar com os seus agressores. Os seus filhos podem facilmente mantê-los cativos sem viver na mesma casa. Estamos perante uma violência que têm um princípio, um meio e um fim. Começa na criança, continua na mulher e acaba nos idosos. E esse é o reflexo actual da nossa sociedade. Hoje em dia, reflectimos e punimos gravemente (e bem!) os agressores pelo abandono e os maus-tratos de animais, mas raramente nos preocupamos com aqueles que são os nossos “pais” e os “avós” dos nossos filhos. Que mundo estranho é este em que vivemos? Que valores são estes que construímos? Qual é a sociedade que pretendemos? Que exemplo ambicionamos? São perguntas que me faço, e que agora vos faço também! No entanto, as minhas perguntas vão cair em saco roto, se a minha geração não quiser educar a futura, se a minha geração não pensar que um agressor sádico, que deixa um idoso ou uma idosa durante dois anos a morrer à fome, está a chacinar a representação dos nossos “avós”! Se pensarmos assim, talvez vocês me possam ajudar a construir um futuro melhor, contra esta epidemia da violência doméstica, que não ataca só as crianças, nem só as mulheres mas também os nossos “avós” de forma absolutamente aterreradora. Algo me diz que este novo decreto, (que prolonga o acolhimento de emergência de 3 meses para 9 meses para vítimas de vulnerabilidade acrescida) ajuda mas é ainda insuficiente! Vamos então para a luta, sem favores! Com o devido gosto de proteger a “velhice”. Sim, sim, a velhice que não é só uma palavra nem um trapo, mas um baú de memórias de famílias inteiras com histórias dentro de estórias por contar, como homenagem e respeito a milhares de idosas e idosos do nosso país! Conto com a ajuda de todas e todos que se queiram juntar a mim. Esta é a luta dos justos: uma luta que nunca devia ser necessária mas que agora pertence a nós travar!