Francisco Moita Flores – As ilhas mágicas

Peixe inacreditável de frescura, paisagens de uma beleza esmagadora. Da vista ao paladar, o arquipélago dos Açores espicaça os sentidos de quem o visita. S. Miguel é a permanente exposição mundial da magia.

Diz a lenda que o arquipélago dos Açores são resquícios da mítica Atlântida, aquilo que restou do formidável paraíso fundador das civilizações. Quando estou longe, não creio nesta explicação. Quando as reencontro, fico na dúvida se não será mesmo verdade. Algumas das belezas mais extraordinárias do mundo estão ali. Concentradas naquele punhado de ilhas. 

Se não for militante da TAP, cujos voos são muito caros, escolha outra companhia com preços em conta. Mas não diga ao ministro Pedro Nuno Santos, que o santo homem está convencido de que sem a TAP o país desmorona. Tem duas horas de voo pela frente. Ofereça a si próprio um ou dois jornais, que o negócio da comunicação social anda pelas ruas da amargura, e leia as últimas notícias sobre a pandemia e sobre Marcelo e Costa, os dois mais brilhantes epidemiologistas que se conhecem aqui e além mar. 

Quando aterrar em Ponta Delgada, escolha um hotel. São vários e com preços acessíveis. Alugue um carro e não tenha medo. Vai viajar por um dos jardins de Jerusalém Celeste. Num dia dará a volta completa à ilha. Porém, a surpresa com os inesperados encontros que cada curva da estrada lhe mostra.

Digo-lhe: viajei por quase uma centena de países de todos os continentes. Umas vezes em trabalho, outras para gozo de férias e nunca senti as ondas de emoções com que os Açores me espicaçam os sentidos. S. Miguel é a permanente exposição mundial da magia. Não se apresse no caminho. Goze a estrada, nesta altura do ano, ladeada por milhares de hortênsias em flor. Os prados sempre verdes e o mar à distância de um abraço. As vacas, pachorrentas, salpicam os montes. Ah, e beba leite. E nunca se esqueça de uma refeição onde não prove os queijos. Cada ilha tem queijos diferentes, tão saborosos e luminosos com estas hortênsias que lhe iluminam a viagem.

Vire à esquerda e suba à lagoa do Fogo. Vai ficar esmagado pela beleza e desça em direção a Vila Franca do Campo e embelgue a caminho das Furnas. Outra onda de emoções ao escutar os sons e os odores das profundezas da Terra Mãe. E aproveite o cozido à portuguesa que fervilha nos alvéolos do seu útero. Experimente nadar numa das piscinas naturais aquecidas e corra, já descompassado de tanta emoção, ao miradouro do Salto de Cavalo. Então, perceberá que Deus existe, que está nos cumes da Atlântida e ficará sem dúvidas de que se encontra no cume do primitivo Olimpo habitado por Zeus e toda a corte de deuses mitológicos. 

Chegado a este momento, regresse à cidade de Ponta Delgada. Faça nos dias seguintes os percursos que o levarão às Sete Cidades, à Ribeira Grande, à Povoação. Não dá para degustar tanto prazer num só dia. 

Ah! E não se esqueça de provar o queijo fresco com pimenta da terra. Os bifes mais tenros do mundo. O peixe mais inacreditável de frescura e sabor. Nos Açores não podemos fazer viagens a correr. Tudo é já ali. A tranquilidade vencerá o stress dos dias de trabalho e sentirá o verdadeiro sentido da paz espiritual.

São as férias que lhe sugiro, caro leitor.

As férias da minha vida!