Vamos todos ficar bem?

Se olharmos para o mercado de trabalho nacional, verificamos que a precariedade laboral em Portugal é ainda elevada (o país ocupou o 10.º lugar no ranking do Eurostat, em 2019). Volatilidade da legislação laboral, cortes das despesas e falta de qualificações da mão-de-obra, são alguns dos motivos apresentados para tal cenário. 

"Deal!". Foi assim que, na madrugada de 21 de julho, no quinto dia de uma das Cimeiras Europeias mais longas da história, Charles Michel declarou que o Conselho Europeu havia aprovado um acordo que prevê a retoma da economia comunitária, através de um pacote total de 1,82 biliões de euros. Desse bolo, Portugal deverá retirar uma fatia que ronda os 15,3 mil milhões de euros. Se acrescentarmos a isto os 29,8 mil milhões de euros em subsídios do orçamento da UE para 2021-2027, Portugal arrecadará cerca de 45,1 mil milhões de euros. Mediante isto, podemos afirmar que: "Vamos todos ficar bem!". Mas, será mesmo assim?

No dia em que uma Europa ‘frugal’ celebrou um acordo histórico, foi também apresentado o documento intitulado ‘Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social de Portugal 2020-2030’, elaborado por António Costa e Silva. Alguns dos alertas evidenciados nesse documento indicam que o PIB poderá cair 12% em 2020 e a taxa de desemprego poderá chegar aos 11,5%. Deste modo, estamos perante alguns desafios que implicam reflexões urgentes, em prol de uma recuperação efetiva. 

 

Se olharmos para o mercado de trabalho nacional, verificamos que a precariedade laboral em Portugal é ainda elevada (o país ocupou o 10.º lugar no ranking do Eurostat, em 2019). Volatilidade da legislação laboral, cortes das despesas e falta de qualificações da mão-de-obra, são alguns dos motivos apresentados para tal cenário. Mediante isto, é urgente apostar numa legislação que promova a estabilidade empregatícia, baseada no desempenho e na meritocracia dos Recursos Humanos. 

 

É urgente apostar na qualificação das pessoas, com base na qualidade, diversidade, sustentabilidade e inclusão. Portugal é o quarto país da OCDE com mais baixos níveis de escolaridade entre os jovens adultos, sendo esse cenário apontado como um dos principais entraves ao crescimento da economia portuguesa.

É urgente apostar no desenvolvimento industrial, pois Portugal tem um grande défice a esse nível, o que se torna particularmente preocupante num país que se encontra mergulhado numa profunda crise num dos setores com mais peso no PIB nacional – o Turismo (as receitas turísticas registaram um contributo de 8,7% para o PIB nacional, em 2019, segundo dados do Turismo de Portugal). 

É urgente demonstrar às empresas que a competitividade tem um preço e que apostar em mão-de-obra precária e barata não é uma política sustentável. É preciso investir nas pessoas e fazê-las acreditar que as suas competências são valorizadas. 

 

Em suma, uma recuperação efetiva não depende apenas de fundos comunitários nem de planos de recuperação, mas também de mudanças de mentalidades, que promovam a Educação, o mérito e a equidade. Só assim poderemos dizer que: "Vamos todos ficar bem!".

Carla Magalhães
Diretora da Licenciatura em Gestão e Desenvolvimento de Recursos Humanos da Universidade Lusófona do Porto