Avante. PCP faz a festa

Os comunistas não abdicam da realização da Festa do Avante! Com a limitação das entradas a um terço da capacidade da Quinta da Atalaia, os comunistas dizem que o espaço aumentado para 300 mil m2 permite um distanciamento maior do que nas praias da costa portuguesa.

A realização da Festa do Avante! em tempos de covid-19 transformou-se numa batalha política entre o PCP e os partidos críticos do evento. 

OPresidente da República recusou entrar neste «jogo político», mas alertou que as regras que vieram a ser definidas pelas autoridades de saúde têm de ser compreendidas pelos portugueses. 

O Governo esclareceu que nada podia fazer para impedir uma iniciativa política da «exclusiva responsabilidade» do PCP. 

Independentemente de todas as polémicas, a Festa do Avante! vai mesmo realizar-se, com a garantia dada pelo PCP de que está preparado para cumprir as regras definidas pela Direção-Geral de Saúde (DGS).
Os críticos do evento argumentam que é impossível. 

Nuno Melo, do CDS, é um dos mais duros nas críticas à realização do evento. «Absolutamente irresponsável, para não dizer criminoso. Acontecendo, nem governo, nem DGS terão legitimidade para voltar pedir restrições a quem mais seja», escreveu, nas redes sociais, o eurodeputado centrista. 

Ao SOL, Nuno Melo explica que é um absurdo acreditar na garantia do PCP de que vai cumprir as regras de distanciamento social. 

É impossível controlar tanta gente, diz Nuno Melo
«Isso significaria que podem controlar o comportamento de 100 mil pessoas. É impossível. Ninguém controla o comportamento de cem mil pessoas de todo um país. Cem mil pessoas  que voltarão a casa e espalharão aquilo que de mau lá trouxerem», disse ao SOL Nuno Melo, a meio da semana, antes de serem conhecidas todas as restrições por causa da pandemia. 

As maiores críticas à realização da festa, nos dias  4, 5 e 6 de Setembro, no Seixal, surgiram do lado do PSD e CDS. 
Rui Rio entrou na polémica e apelou a que a lotação seja reduzida. O deputado social-democrata Duarte Marques escreveu, nas redes sociais, que «a festa do PCP devia mudar de nome de Festa do Avante! para festa do desplante». 
Os centristas voltaram a acusar o Governo de estar a beneficiar o PCP.  O líder parlamentar do CDS, Telmo Correia, acusou o Governo de estar a «permitir a uns o que proibiu a todos os outros».

O Governo respondeu às acusações com a garantia de que não haverá exceções. Primeiro foi a ministra da Saúde, Marta Temido, a afirmar que «não haverá exceções».  A ministra de Estado e da Presidência deixou a mesma garantia e esclareceu que o Governo não teria capacidade para impedir a realização do evento comunista. «A Constituição e a lei não permitem proibir qualquer iniciativa e qualquer atividade política. Nenhuma realização ou atividade politica depende de uma autorização do Governo». A ministra quis deixar claro que a organização da festa «é da exclusiva responsabilidade» do PCP e «não existirá para esta iniciativa qualquer exceção às regras vigentes».

Marcelo não quer exceções
Marcelo Rebelo de Sousa também deixou um alerta de que as condições em que se vai realizar a festa comunista têm de ser compreendidas pelos portugueses. O Presidente defendeu que a avaliação das autoridades de saúde terá de ser «compreensível pela maioria dos portugueses e respeite o princípio da igualdade de tratamento sobre as condições sanitárias que devem rodear os vários eventos, esse é um deles, de forma a que os portugueses percebam».
Marcelo recusou entrar no jogo político, que é «respeitável», mas avisou que as regras aplicadas a esta iniciativa política têm de «garantir que não há problemas de saúde pública» e que «os portugueses olham para aquilo como um exemplo de boa conduta das autoridades sanitárias».  

O recado ficou dado a meio da semana e antes de se conhecerem todas as restrições que vão ser aplicadas ao evento. 

PCP aperta restrições
Depois de muita polémica com a possibilidade de a festa receber 100 mil pessoas, a capacidade máxima do recinto, o PCP veio garantir, esta sexta-feira, que «o número de presenças em simultâneo na Festa será de um terço da capacidade licenciada». Na prática, o recinto não poderá ter mais de 33 mil pessoas ao mesmo tempo. Com esta medida, o PCP garante, em comunicado, que estão reunidas as condições para cumprir o distanciamento social.  «Os 300 mil m2 postos à disposição dos visitantes significam que cada um pode usufruir de uma área superior à que está estabelecida para a frequência de praias». 

Desde que a festa começou a ser preparada que o PCP tem divulgado as restrições que vai aplicar por causa da covid-19. 

Na última edição do jornal Avante!, os comunistas garantem que será obrigatório usar máscara «no acesso a espaços e a todos os serviços de atendimento». 

OPCP voltou a garantir que haverá mais espaço à disposição dos visitantes. «Serão cerca de mais 10.000 m2 que estarão acessíveis aos visitantes, contribuindo assim para o descongestionamento e alargamento de todas as áreas com atividades e para uma adequada circulação». 

O número de bares e restaurantes também vai ser reduzido e «as esplanadas, com distanciamento assegurado entre mesas e cadeiras, serão alargadas». Haverá equipas de higienização em todos estes espaços.
A organização do evento decidiu também criar os assistentes de plateia, que terão a missão de «facilitar o encaminhamento para a ocupação dos lugares e um papel de ajuda ao respeito pelas regras». 

PCP lamenta ‘campanha’ 
O PCP respondeu, no mesmo comunicado em que anuncia as restrições, aos críticos da realização desta festa. «Num momento em que, com procedimentos de prevenção de saúde pública, se retomam, natural e legitimamente, o conjunto de atividades indispensáveis à fruição da vida, prossegue a campanha contra a Festa do Avante! pretendendo a sua estigmatização, procurando impor-lhe limitações excecionais que não vigoram nas múltiplas expressões da vida social e cultural, e pôr em causa direitos políticos que o povo português alcançou com o 25 de Abril». 
O editorial do jornal Avante! também fez referência «aos ataques mais despudorados por parte do grande capital e dos seus instrumentos de classe». Os comunistas lamentam que este ano o ataque seja  o «mais profundo», com o objetivo  «condicionar a ação do PCP».