Fim da linha para o governo libanês

O Governo libanês apresentou demissão em bloco. O primeiro-ministro fala em ‘corrupção maior que o Estado’.

Depois de dias consecutivos de protestos no Líbano, a indignação da população teve repercussões. Sem outra saída, o primeiro-ministro, Hassan Diab, e os seus ministros demitiram-se em bloco.

Hassan Diab confirmou a renúncia ao cargo, afirmando que a corrupção é «maior que o Estado». «Declaro o meu despedimento do Governo. Que Deus proteja o Líbano», cita a Al Jazeera, reforçando que Diab repetiu a última frase três vezes.

Segundo o próprio, vai «dar um passo atrás», para poder apoiar as pessoas «e lutar esta batalha pela mudança junto a eles». O primeiro-ministro demissionário visitou o Palácio Baabda para apresentar formalmente a renúncia ao Presidente Michel Aoun. Este, embora aceitando o pedido, instruiu o Governo para se manter um funções temporariamente até se formar um novo executivo, noticiou o jornal libanês L’Orient-Le Jour. 

«Todo o Governo apresenta a sua demissão», já tinha anunciado na segunda-feira o ministro da Saúde libanês, Hamad Ali Hassan, num encontro com a imprensa local no final de uma reunião com o Governo, citado pela Associated Press. Ali Hassan também tinha adiantado que o primeiro-ministro iria «entregar a demissão, em nome de todos os ministros».
Os primeiros políticos a renunciarem aos cargos foram os ministros da Informação e do Ambiente, Manal Abdel Samad e Damianos Kattar, respetivamente, no passado domingo, seguidos pela ministra da Justiça, Marie-Claude Najm, e o ministro das Finanças libanês, Ghazi Wazni. Também nove deputados já abandonaram os respetivos cargos.
Mesmo depois da demissão em bloco do Governo, as manifestações continuaram. Os contestatários apelaram a uma «vingança» contra uma classe política totalmente desacreditada.

Presidente conhecia perigo
O cerco ao Presidente libanês continua a apertar-se, depois de ter rejeitado uma investigação internacional e de as autoridades de Beirute não terem ainda avançado informações sobre a evolução do inquérito em curso, Michel Aoun, reconheceu, esta quarta-feira, que sabia da existência de uma «grande quantidade» de nitrato de amónio no porto de Beirute.

A notícia foi confirmada depois de circularem rumores de que o Presidente e o primeiro-ministro sabiam da existência do componente para explosivos que criaram a tragédia que apanhou o Líbano de surpresa no passado dia 4 de agosto. «O Presidente Aoun foi informado em 20 de julho de 2020, através do relatório de segurança do Estado, da presença de uma grande quantidade de nitrato de amónio num armazém do porto de Beirute e o conselheiro militar de sua excelência informou o secretário-geral do Conselho Supremo da Defesa», escreveu fonte da Presidência na rede social Twitter.
Segundo a mesma nota, o assessor de Aoun terá informado o Conselho de Ministros «para que se tomassem as medidas necessárias» e o secretário-geral do Conselho Supremo da Defesa terá remetido o texto aos departamentos «competentes».

«A Presidência da República deseja que a investigação judicial siga o seu curso, usando de todas as experiências para mostrar a verdade completa sobre a explosão, as suas circunstâncias e os responsáveis a todos os níveis», acrescentava. Mas as palavras não acalmaram a contestação. Na sequência das violentas explosões do início do mês, cerca de 300 mil habitantes de Beirute ficaram sem casa – e ainda não receberam qualquer ajuda estatal.