Bielorrússia. Novas eleições só por cima do cadáver de Lukashenko

Presidente admite que podem ser feitas mudanças na Constituição de forma a redistribuir o seu poder, mas eleições estão fora de questão.

“Despede-te!”, foi este o grito que Alexander Lukashenko, Presidente da Bielorrússia desde 1994, ouviu enquanto discursava perante trabalhadores em greve numa fábrica de máquinas agrícolas, em Minsk.

Face à pressão, o governante admitiu que já está em movimento o processo para alterar a Constituição de forma a redistribuir o poder. Contudo, não especificou quais eram as alterações, reafirmando que não ia ceder face à pressão dos manifestantes e que não ia permitir novas eleições.

“Conseguimos construir um belo país, com as suas dificuldades e falhas. A quem o querem entregar? Se alguém o quiser entregar, eu não o permito, nem morto”, cita a agência Belta. “Já tivemos eleições. Até que me matem, não haverá outras eleições”.

Fator Svetlana “Estou pronta para assumir a responsabilidade e agir como líder nacional durante este período, para que o país possa acalmar e voltar a um ritmo normal, para que possamos libertar todos os presos políticos o mais rápido possível e para que possamos preparar-nos para novas eleições presidenciais”, disse Svetlana Tikhanouskaia, através de um vídeo gravado na Lituânia, local onde está exilada.

O vídeo foi publicado um dia depois de um dos maiores comícios da oposição na história do país, que reuniu dezenas de milhares de pessoas, em Minsk.

“Não vamos esquecer, não vamos perdoar”, gritaram os manifestantes reunidos na fábrica.

A antiga professora de Inglês apelou à criação de mecanismos legais que permitam a realização de novas eleições, livres e justas. “Eu não queria ser política. Mas o destino decretou que estaria na linha da frente de um confronto contra regras arbitrárias e injustiças”.

Ajuda russa Em 26 anos no poder, esta está a ser a maior contestação que Lukashenko já enfrentou. O governante pediu ajuda aos seus apoiantes de forma a defender a independência do país.

“Caros amigos, chamei-os aqui não para que me defendam, mas porque, pela primeira vez em um quarto de século, podem defender a independência do vosso país”, afirmou Lukashenko, durante uma concentração, na Praça da Independência, de apoio ao atual Governo. Segundo a agência AFP, estiveram presentes pelo menos mil pessoas (no protesto contra o Governo, a mesma agência de notícias informa que estiveram presentes dezenas de milhares de manifestantes).

Letónia, Lituânia e Polónia ofereceram ajuda ao Presidente da Bielorrússia, mas foram rejeitados pelo político – que, no entanto, acabou por aceitar o apoio do homólogo russo, Vladimir Putin, em nome da “segurança” do país.

Putin afirmou que “uma ajuda completa será garantida para assegurar a segurança da Bielorrússia”, disse Lukashenko à agência pública Belta, depois de uma conversa telefónica entre os dois Presidentes. “Quando há uma questão de dimensão militar, nós temos um acordo com a Federação Russa, no âmbito da União (da Rússia e da Bielorrússia)”.

Segundo o Governo russo, “o mais importante é que estes problemas não beneficiem as forças destrutivas que procuram prejudicar uma colaboração mutuamente vantajosa” entre a Rússia e a Bielorrússia.

Lukashenko venceu as presidenciais pelo sexto mandato consecutivo, no dia 9 de agosto, com 80% dos votos, algo que fez a oposição, liderada por Svetlana Tikhanouskaia (que apenas conseguiu 8% dos votos), acusar Lukashenko de ter falseado os resultados das eleições.