Reguengos de Monsaraz. Médicos ameaçados com processos por se recusarem a trabalhar

Presidente da Administração Regional de Saúde do Alentejo pressionou médicos que se recusaram a ir trabalhar para o Lar de Reguengos por falta de condições no local.

O relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos revela que o diretor da Administração Regional de Saúde do Alentejo, José Robalo, ameaçou os médicos que se recusaram a ir trabalhar para o Lar de Reguengos por falta de condições no local com um processo disciplinar, avança a RTP.

Em declarações à estação televisiva, José Robalo confirmou a informação, mas garante que só o fez para garantir que os médicos não se recusavam a prestar cuidados aos utentes. "A recusa de qualquer profissional médico de prestar cuidados de saúde aos utentes do lar (que são utentes do SNS) levaria à instauração de um processo disciplinar nesta circunstância e em qualquer idêntica", alegou o responsável.

O diretor regional de saúde considera ainda que "se os profissionais médicos consideravam que não havia condições para a prestação de cuidados médicos deveriam ter referenciado os utentes para o local que considerassem mais adequado".

De realçar que, segundo a RTP, o relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos indica que os utentes do lar estavam deitados quase lado a lado e sem espaço para os médicos se movimentarem. O documento refere ainda que os idosos estavam desidratados, desnutridos, desorientados, e alguns tinham feridas na pele e outros usavam apenas uma fralda.

Além do calor extremo ou do lixo no chão, a Ordem dos Médicos refere que, por mais vontade que tivessem, as pessoas que foram substituir os funcionários do lar não estavam preparadas para esse trabalho.

José Robalo disse à RTP que foi duas vezes ao lar, onde 18 pessoas morreram devido ao surto de covid-19, mas que não esteve em contacto com os utentes, desconhecendo se havia más condições. "Se isso [a falta de condições] se passou, pode ter-se passado, efetivamente, mas não presenciei. Mas os profissionais de saúde pública, hospitalares e de cuidados primários de saúde deviam ter criado as melhores condições de alternativa se consideravam que as condições não eram as melhores para a prestação de cuidados", disse.

O responsável considera ainda que o relatório apresentado pela Ordem dos Médicos não tem qualquer fundamento e acusa a redatora do documento de ter sido a responsável pela falta de médicos no lar. Segundo a RTP, José Robalo considera que a metodologia utilizada pela autora é obscura, enganosa e tendenciosa.

Entretanto, o  Sindicato Independente dos Médicos confirmou a ameaça de processos a médicos. De acordo com a estação pública, o sindicalista Roque da Cunha refere que era a única atitude esperada por parte dos médicos de família, uma vez que não havia condições para a devida assistência aos idosos.