Consultora que vai reestruturar TAP contrata gestores de Neeleman

O presidente do Sitava, José Sousa, considera esta situação “reprovável e insultuosa”. A TAP contratou três gestores em vésperas de anunciar que deixaria de renovar contratos a termo com os seus colaboradores.

A TAP terá contratado, no último ano, 18 colaboradores à revelia do departamento de recursos humanos da empresa. As contratações terão sido feitas através do departamento de redes e controlo de receita, liderado pelo gestor Arik De, contratado, em março de 2019, pelo então presidente executivo da companhia aérea, Antonoaldo Neves (nomeado, na altura, pelo principal acionista privado da empresa, David Neeleman). 

O i apurou que três destes elementos assinaram mesmo contrato sem termo com a empresa (passando a efetivos) no passado mês de março, poucos dias antes da interrupção dos voos da TAP. O caso ganha contornos polémicos uma vez que, no mês imediatamente a seguir, a companhia aérea anunciou que deixaria de renovar contratos com os seus colaboradores com vínculos a termo – uma situação que, por exemplo, vai empurrar para o desemprego 1200 tripulantes de cabina até março de 2021.

Entretanto, os restantes 15 elementos do grupo de colaboradores contratados por Arik De saíram da TAP. Porém, o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) denunciou, ontem, que quatro deles haviam sido agora contratados pelo Boston Consulting Group, a consultora norte-americana escolhida pelo conselho de administração da TAP para elaborar o plano de reestruturação da empresa, a ser apresentado em outubro à Comissão Europeia – o objetivo do Boston Consulting Group será, de facto, colocar estes profissionais, agora recrutados, a trabalharem no dossiê TAP, apurou o i.

Contactado pelo i, José Sousa, presidente do Sitava, considera esta situação “reprovável e insultuosa”. O dirigente afirma que “o que está a acontecer carece de uma explicação urgente e cabal por parte do conselho de administração”, uma vez que considera que o regresso destes elementos à TAP, através de outra entidade e noutras funções, “coloca em causa a transparência do processo de reestruturação”. “A TAP não pode continuar a navegar em águas turvas”, conclui José Sousa.

O i sabe que a administração, presidida por Miguel Frasquilho, tomou conta desta ocorrência, mas alega que nada pode fazer, pois considera que estas opções são da responsabilidade do Boston Consulting Group, uma empresa privada que, nesta fase, apenas presta um serviço à TAP.