Dr. Jekyll e Mr. Hyde. O monstro que vivia dentro do abade Brodie

Ninguém desconfiaria que um tranquilo presbítero de Edimburgo gastasse as suas noites a praticar os mais variados crimes. A história de William Brodie excitou a imaginação do escritor Robert Louis Stevenson.

A vida secreta do diácono William Brodie daria um livro. Daria e deu. Aliás dois. O primeiro foi uma peça de teatro: Deacon Brodie, or The Double Life. Não teve sucesso. O segundo, publicado em 1886, correu mundo e tornou-se uma obra que toda a gente leu: The Strange Case Of Dr. Jekyll And Mr. Hyde. O autor foi o mesmo: Robert Louis Stevenson.

Stevenson, cujo nome completo era Robert Louis Balfour Stevenson, nasceu em Edimburgo, Escócia, no dia 13 de novembro de 1850. Tinha na família uma longa linha de engenheiros especializados em faróis mas o pai decidiu-se pelos caminhos da religião e tornou-se o reverendo Lewis Balfour.

Robert não saía definitivamente ao pai. Perante a modéstia do primeiro, cedo ganhou uma vaidade particular que o transformou num dândi precoce que aos 14 anos já se saracoteava com casacos de veludo o que lhe valeu a bem humorada alcunha de Velvet Jacket. Chegado à universidade, optou por seguir o curso de Direito, mas já tinha instalado no bestunto o irritante bichinho criativo dos romancistas. Quando publicou um dos maiores êxitos da sua carreira, e já agora da literatura mundial, numa revista semanal para jovens que levava o título muito sugestivo de Young Folks, não se atreveu a usar o nome de família e optou por assinar com o pseudónimo de Capitão George North. A obra era A Ilha do Tesouro.

Tornar-se-ia, a partir de aí, um escritor prolífico como poucos. Os livros saíam-lhe da pena aos borbotões e tinha um gosto requintado por personagens com o seu quê de grotesco. Não admira que se tenha deixado fascinar por uma figura que vivera em Edimburgo cerca de cem anos antes, um tal de William Brodie, fabricante de escrivaninhas e diácono ao mesmo tempo, estando sempre à disposição dos irmãos que possuíam uma agência funerária para os ajudar a enviar algum concidadão para o além devidamente paramentado.

O Estranho Caso do Dr. Jeckyll e Mr. Hide viu a sua primeira edição nas mãos dos leitores no ano de 1886. Nessa altura já Brodie tinha morrido há exactamente 98 anos, depois de ter fornecido algumas peças de mobiliário ao reverendo Lewis. A trama passa-se em Londres, e não em Edimburgo, tendo como personagem principal o médico Gabriel John Utterson que investiga uma estranha ligação entre o seu velho amigo, também médico, Dr. Jeckyll e um curioso figurão de maus instintos chamado Edward Hyde. Motivo para que, em muitas edições, o comprido nome da novela tenha sido reduzido para um prosaico O Médico e o Monstro.

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