Novo Banco. Auditoria faz raio-x à gestão dos últimos 18 anos

Documento surge depois de o Fundo de Resolução garantir que vai ter em conta a crise económica e o contexto dos mercados na avaliação que fará dos ativos que o Novo Banco queira vender este ano.

Um mês depois do previsto, a auditoria ao Novo Banco terá sido entregue ao Ministério das Finanças. O relatório faz um raio-x à gestão de 18 anos do antigo Banco Espírito Santo (BES) e do Novo Banco e deverá concluir que os problemas do banco decorrem em grande parte do período de gestão pré-resolução com origem nos ativos herdados pelo banco que foi liderado por Ricardo Salgado.

O documento terá sido entregue depois de o Governo ter emprestado 850 milhões de euros ao Fundo de Resolução para injetar no Novo Banco, em 2019.

A entrega do documento surge depois do Presidente da República ter revelado, ainda este mês, que os resultados da auditoria são “importantes para o esclarecimento dos portugueses”, acrescentando que “indiretamente os portugueses estão envolvidos pela garantia do Estado ao Fundo de Resolução”.

Várias polémicas O documento surge após o Fundo de Resolução ter garantido que vai ter em conta a crise económica e o contexto dos mercados na avaliação que fará dos ativos que o Novo Banco queira vender este ano, situações que são desfavoráveis a alienações.

Em relação à hipótese de vir a poder impedir a venda de ativos do Novo Banco que estejam protegidos pelo mecanismo contingente, tendo em conta a situação dos mercados financeiros, fonte oficial do Banco de Portugal (responsável pela comunicação do Fundo de Resolução) respondeu que o Fundo de Resolução “analisa cada operação que lhe é submetida pelo Novo Banco de forma individualizada, tendo presentes as condições específicas de cada uma e o contexto em que a operação tem lugar”, disse à Lusa. E que essa análise terá de ter em conta a situação dos mercados.

No início do mês, o Governo disse que não deveriam ser realizadas outras operações de venda de carteiras de ativos por parte do Novo Banco até estar concluída a auditoria da Deloitte, que se esperava que fosse entregue até final de julho.

Ainda segundo o comunicado do Ministério das Finanças, na altura, “na sequência das preocupações expressas pelo Governo, o Fundo de Resolução informou o Ministério das Finanças que partilha do mesmo entendimento, tendo já comunicado ao Novo Banco que este não deve realizar tais operações até à conclusão do processo de auditoria”.

Perdas O Novo Banco divulgou prejuízos de 555,3 milhões de euros no primeiro semestre (um agravamento de 38,8% face ao mesmo período de 2019) e estimou que o valor a pedir ao Fundo de Resolução seja de 176 milhões de euros apenas referente ao primeiro semestre.

A instituição financeira revelou ainda que os resultados negativos são justificados por quatro fatores: perdas de 260,6 milhões de euros que resultam “da avaliação independente aos fundos de reestruturação”; um impacto de 138,3 milhões de euros com a “imparidade adicional” constituída para cobrir “riscos de crédito decorrentes da pandemia covid-19”; outros 78,7 milhões de euros relacionados com a cobertura de risco de taxa de juro de títulos de dívida pública portuguesa; e 26,9 milhões de euros de “reforço da provisão para reestruturação”.