Kim Yo-jong. Dos bastidores para segunda no comando

Desde que saiu das sombras da família Kim, a influência da irmã mais nova do Líder Supremo da Coreia do Norte, Kim Yo-jong, apenas parece crescer. Mas quem é esta mulher e será que algum dia poderá suceder a Kim Jong-un no poder?

O que se passa dentro das fronteiras da Coreia do Norte ainda é um grande mistério. Dada o esforço do país em manter toda a informação confidencial dentro do território, é apenas natural que pouco ou nada se saiba sobre Kim Yo-jong, irmã (do igualmente misterioso) Presidente Kim Jong-un e segunda pessoa mais importante do regime norte-coreano.

A primeira aparição pública de Yo-jong remonta a 2010, quando foi fotografada ao lado de Kim Ok, a secretária pessoal e alegada amante do falecido pai, Kim Jong Il, na terceira Conferência do Partido dos Trabalhadores. Durante anos, a norte-coreana não passou de uma figura na retaguarda da família, filmada a suportar um cinzeiro enquanto o seu irmão fumava ou a entregar-lhe uma tesoura numa cerimónia. Contudo, ao longo do tempo, foi subindo nas fileiras do Governo e, este mês, tornou-se na ‘segunda no comando’ na Coreia do Norte.

Apesar de não ter sido designada oficialmente como sucessora e de Kim Jong-un ainda deter o poder absoluto, Kim Yo-jong está com cada vez mais autonomia. «Ainda não foi formada uma estrutura de sucessão completa, mas Kim Yo-jong está a ser levada para a frente progressivamente, uma vez que o vazio [no poder] não se pode manter durante muito mais tempo», disse Chang Song-min, ex-assessor do falecido Presidente sul-coreano Kim Dae-jung.

 

De protegida a temida

É a filha mais nova de Kim Jong-il, líder da Coreia do Norte entre 1994 e 2011, e de Ko Yong Hui, ex-dançarina e uma das amantes do líder coreano, que também foi mãe de Kim Jong-un e de Kim Jong-cho.

Nasceu, segundo o North Korea Leadership Watch, a 26 de setembro de 1987, o que a torna quatro anos mais nova que o seu irmão Kim Jong-un, e foram juntos viver para uma casa privada em Berna, na Suíça, entre 1996 e 2000, onde tiveram grande parte da sua educação.

«Eles viviam em exílio juntos», disse Youngshik Bong, investigador do Instituto da Universidade de Yonsei de estudos Norte-Coreanos, em Seul, ao The Guardian. «Ambos sabiam o que o futuro tinha reservado para eles. Os irmãos devem ter adquirido um senso tremendo de terem um destino comum. Como resultado, ela adquiriu a confiança incondicional do seu irmão», explicou.

Segundo os funcionários da escola onde os irmãos estudaram, Yo-jong era bastante protegida pelos guardas e seguranças, recordando que uma vez, quando esta estava com uma constipação, foi imediatamente levada da escola para o hospital. Segundo a BBC, devido a este crescimento reservado, a grande maioria dos membros da família Kim não interagiram muito com Yo-jong.

A mais nova da família Kim estudou Ciência Computadorizada na Universidade Kim Il-sung, quando regressou a Pyongyang, em 2000, e o que aconteceu na sua vida durante esses anos é uma incógnita, visto que só volta a surgir em registos em 2007, ano em que começou a desempenhar um papel mais ativo no Partido dos Trabalhadores da Coreia.

 

Controlar os media

Trabalhou diretamente com o seu pai, entre 2009 e 2010, de forma a tratar da sucessão do seu irmão, após Kim Jong Il ter sofrido dois enfartes, em 2008. No entanto, as suas aparições públicas continuavam a ser bastante escassas, surgindo apenas com mais destaque mediático, em 2011, durante o funeral do seu pai, onde surgiu a acompanhar Kim Jong-un.

Após Jong-un se afirmar como líder supremo da Coreia do Norte, a irmã mais nova ocupou diversos cargos nos bastidores no Governo. Um dos mais importante foi o de vice-presidente do departamento de propaganda do partido, em 2014, cargo que utilizou para proteger e elevar a imagem de Kim Jong-un. Alegadamente, é Yo-jong que controla todas as aparições públicas do líder supremo e é sua conselheira política. Foi a irmã que aconselhou Kim Jong-un a apresentar uma imagem de homem do povo e que mediou a sua relação com o ex-jogador de basquetebol, Dennis Rodman.

«O regime norte coreano é um negócio de família, e o Kim Jong-un parece ter confiança na sua irmã», disse Leif-Eric Easley, professor associado de estudos internacionais da Universidade de Ewha University, em Seul, ao Guardian. «Ela demonstrou capacidade de modernizar a marca do regime e domínio total sobre a propaganda estatal. A sua função mais importante é ser confidente do irmão».

Em 2017, Yo-jong foi promovida ao politburo, órgão mais importante na tomada de decisões do Governo norte-coreano, supostamente, segundo a Reuters, para substituir a sua tia, Kim Kyong-hee, e tarefas mais importantes não tardaram a cair no seu colo.

Durante os Jogos Olímpicos de inverno, na Coreia do Sul, em 2018, Yo-jong tornou-se no primeiro elemento da atual dinastia Kim a visitar a Coreia do Sul. Sob os olhos de todo o mundo, esta partilhou um aperto de mão histórico com Moon Jae In, Presidente da Coreia do Sul.

Estas boas relações caíram por terra, entretanto. Após ter sido afastada do Governo em 2018 pelo fracasso nas negociações de um possível fim da atividade nuclear na Coreia com o Presidente dos EUA, Donald Trump, Yo-jong esteve meses sem aparecer publicamente. Mas o seu ressurgimento, em março deste ano, foi acompanhado pela sua maior manifestação de poder.

A primeira vez que falou em público foi para acusar a Coreia do Sul de ser «um cão amedrontado a ladrar» por ter protestado contra um exercício militar dos vizinhos do norte.

 

A possível subida ao poder

Por diversas vezes foi reportado, apesar de se tratarem apenas de rumores, que Kim Jong-un, dada a sua saúde instável, se apresentava indisponível para governar o país, cargo que era, entretanto, ocupado pela sua irmã. Esta experiência na liderança, juntando ao facto dos filhos do seu irmão mais velho serem ainda demasiado novos, levou a muitos ponderaram que, no caso de Jong-un falecer, seria a sua irmã a suceder no poder.

No entanto, especialistas apontam que esta ascensão não será assim tão fácil ou bem aceite. Outro entrave que se pode colocar a Yo-jong é a própria família, embora se «nenhum membro da família Kim se chegar à frente para liderar, para ela as coisas serão bastante simples», explicou outro especialista em assuntos da Coreia do Norte. Mas, «ou ela assume o manto de Líder Supremo ou perde todo o seu poder, e, potencialmente, a sua vida também».