Recomeçar a viver habitualmente

De dia para dia, a economia, em vez de começar a recuperar, afunda-se cada vez mais. Há pessoas aterrorizadas que praticamente não saem de casa há 6 meses. Há muitos velhos em pânico, com problemas graves de depressão. Há todo um modo de vida que está a claudicar. E justificar-se-á?

A informação sobre a covid-19 tem sido caótica desde o início. As pessoas julgam que hoje, por haver mais informação, há melhor informação.

Ora, isso é um erro: como há cada vez maior concorrência entre os media, há cada vez mais sensacionalismo.

A informação sobre a pandemia assume aspetos esquizofrénicos.

Já não falo nas confusões da Organização Mundial de Saúde.

Refiro-me a casos de pura desinformação, de que dou alguns exemplos concretos.

Há semanas, surgiu em Hong Kong uma pessoa que contraiu o vírus pela segunda vez. Era o primeiro caso conhecido, em muitos milhões de infetados. Pois os media fizeram um enorme alarido com o assunto: afinal, ninguém estava livre de voltar a apanhar a doença. Ou seja: aquilo que era um caso raríssimo (depois parece que surgiram mais dois), uma exceção, tornou-se de repente a regra. Já era uma real ameaça para toda a gente…

Há cerca de dois meses, um indivíduo qualquer veio dizer que a ‘imunidade de grupo’ – ou seja, a maior proteção de uma comunidade a partir do momento em que um grupo alargado de pessoas já teve a infeção – era uma falácia. A notícia foi difundida não como uma hipótese mas como uma certeza – e hoje ainda muita gente acredita nela. Ora, já se provou que a imunidade de grupo é um facto, embora se discuta a percentagem de infetados necessária para funcionar.

Recentemente, um menino de dois anos com graves patologias contraiu o covid-19 e morreu. Logo se disse que os meninos eram tão vulneráveis à doença como os adultos – o que é uma mentira: a esmagadora maioria das crianças que testaram positivo não teve sintomas.

Há mais tempo, um texto assinado por vários profissionais de saúde veio dizer que as gotículas (vulgo ‘perdigotos’) expelidas pelas pessoas ao falarem, espirrarem ou tossirem podiam permanecer vários dias no ar, desafiando as leis da Física. Ora, isso talvez possa acontecer em condições especialíssimas de temperatura e humidade e em espaços fechados, climatizados por sistemas de ar condicionado mal concebidos. Doutra forma é impossível. Mas logo se deu como certo que os vírus andavam por aí a voar, vivos, durante dias ou semanas…

A lista de notícias sensacionalistas ou disparatadas que assustam as pessoas poderia continuar.

Mas estas chegam.

Dir-se-á, entretanto, que mais vale as pessoas terem ‘cuidados a mais’ do que ‘cuidados a menos’.

Isso seria verdade se os cuidados a mais não tivessem consequências.

Mas têm.

De dia para dia, a economia, em vez de começar a recuperar, afunda-se cada vez mais.

Há pessoas aterrorizadas que praticamente não saem de casa há 6 meses.

Há muitos velhos em pânico, com problemas graves de depressão.

Há todo um modo de vida que está a claudicar.

E justificar-se-á?

 

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