Lares: valorizar o que foi bem feito

Nem tudo terá corrido sempre bem. Mas talvez seja de valorizar o que foi bem feito. 

Por Nuno Marques, Presidente do Algarve Biomedical Center

A covid-19 veio evidenciar um conjunto de fragilidades que se encontravam, até agora, pouco expostas. A situação dos lares é uma delas. Em Portugal, sim, mas também um pouco por toda a Europa. Ninguém estava preparado para a pandemia. Menos ainda algumas instituições que, sabemos hoje, vivem no limite da sua capacidade física e a quem é pedido que se cumpram regras apertadas de distanciamento social. 

Nem tudo terá corrido sempre bem. Mas talvez seja de valorizar o que foi bem feito. Foram várias as medidas implementadas em todo o país. Se, por um lado, se respondeu às situações urgentes, durante o pico da pandemia, por outro, e em simultâneo, agiu-se preventivamente. 

Peguemos nos exemplos do Algarve, Baixo Alentejo e Alentejo Litoral, regiões onde o Algarve Biomedical Center, centro académico e de investigação, teve um papel ativo no terreno. Perante casos de covid-19 em lares, procedeu-se à devida separação entre pessoas testadas positivas e pessoas testadas negativas. Em paralelo, testámos o mais possível utentes e funcionários. Acompanhámos a implementação dos planos de contingência, esclarecemos dúvidas e formámos quem, no dia-a-dia, se dedica a tratar dos mais vulneráveis. E tudo isto foi feito devidamente articulado com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Autoridades de Saúde Pública, municípios e Proteção Civil. Sim, todos no terreno mobilizados para responder a uma emergência. Mobilizados para detetar precocemente casos positivos e prevenir a propagação do contágio. Mobilizados para cuidar o melhor possível de quem mais precisa. 

Assim foi a Sul, mas assim terá sido também em várias zonas do país. Só desta forma se pode justificar que Portugal apresente um panorama mais favorável do que muitos países da Europa. Não quer isto dizer que não haja ainda muito trabalho pela frente. Há. E há também grande preocupação de todas as entidades envolvidas para, perante uma situação verdadeiramente extraordinária, encontrar respostas, também elas, extraordinárias. Neste momento, rever e otimizar os planos de contingência das instituições, bem como implementar uma linha telefónica de apoio aos lares para  talvez seja de valorizar o que foi bem feito. esclarecimento de dúvidas tornam-se medidas urgentes e essenciais. A outra é não esquecer o que a pandemia nos ensinou: compartimentar não pode, nem deve, ser a solução. 

Numa altura em que todos fomos convocados neste combate, também a ciência soube dizer ‘presente’. E fê-lo ao desafio lançado pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Foram muitos os centros académicos e de investigação que se adaptaram, reinventaram e articularam. Num esforço conjunto, colocaram o know-how existente ao serviço da sociedade. Mas, na verdade, qual o propósito da ciência e da investigação, se não encontrar soluções para as reais necessidades das populações? Hoje e amanhã, faríamos o mesmo.
Quase meio ano depois de nos termos deparado com a pandemia, uma lição podemos retirar: é na multi e na interdisciplinaridade que assenta a chave de uma resposta eficaz a uma crise sem precedentes como esta.