Sete filmes deste festival de veneza

Num ano de festivais de cinema cancelados, Veneza arrancou na quarta-feira para a sua 77.ª edição, que distingue com o Leão de Ouro de carreira Ann Hui e Tilda Swinton.

Dos três grandes europeus, o Festival de Cinema de Berlim foi em fevereiro passado o último a realizar-se. Em maio, Cannes ficou por acontecer. Chegados a setembro e com ameaça de uma segunda vaga a pairar sobre o mundo, arrancou na quarta-feira em Itália o 77.º Festival de Cinema de Veneza, que se prolonga até ao dia 12. Com máscaras, filas de intervalo, mais sessões, apesar de uma seleção mais curta do que em anos regulares. Pela primeira vez em mais de dez anos o filme de abertura foi um filme italiano: Lacci, de Daniele Luchetti, que foi entretanto adquirido para distribuição internacional pela MK2. Mas outros há para além desse que prometem dar que falar.

 

Lacci

É o primeiro filme italiano a abrir o festival em mais de uma década. Uma espécie de Marriage Story da Europa, assim tem sido descrito o drama que Daniele Luchetti adaptou de um romance de Domenico Starnone. Protagonizado por Luigi Lo Cascio, que interpreta um intelectual que apresenta um programa de literatura na rádio, e Alba Rohrwacher, conta também ele a história de uma separação, entre Nápoles e Roma, entre a década de 1980 e os dias de hoje. Noticiou entretanto a Variety que o filme foi já adquirido pela distribuidora MK2.

 

Sportin’ Life

Numa edição em que são Tilda Swinton e Ann Hui as distinguidas com o Leão de Ouro de carreira, Abel Ferrara é o destinatário do prémio Jaeger-LeCoultre Glória ao Cineasta, que visa distinguir a cada ano um cineasta pela sua contribuição particularmente original para o cinema contemporâneo. «Dos conflitos originais entre culpa e inocência, redenção e religião, pecado e traição que prevaleceram no seu cinema por tanto tempo, junto com o retrato da violência urbana abjeta na metrópole noturna, Ferrara chegou a especulações originais no final do mundo e a impossibilidade de encontrar sentido na relação entre os indivíduos e a sociedade. Tudo isso confirma-o como um dos realizadores mais interessantes e inconciliáveis ​​do momento», justifica Alberto Barbera, diretor do festival. A acompanhar a distinção do cineasta que trocou os Estados Unidos por Roma, estreia-se em Veneza, fora de competição, Sportin’ Life. A contar de novo com Willem Dafoe, Cristina Chiriac e Anna Ferrara, a mulher e a filha do realizador, um documentário sobre a relação do realizador com arte e a criação artística.

 

Miss Marx

Depois de Cosmonaut, o seu primeiro filme, estreado em 2009 justamente em Veneza, e de Nico, 1988, o biopic dedicado à cantora e compositora alemã que ajudou a fazer Velvet Underground, Susanna Nicchiarelli volta-se para a história de Eleanor Marx, a filha mais nova de Karl Marx, num biopic que, diz quem já viu, vem desafiar as convenções do género. Segundo a revista Screen, a realizadora recorre em Miss Marx a fotografias e imagens em movimento de época e a «uma estética minimalista no guarda-roupa e nos décors».

 

Nomadland

De Chloé Zhao, a realizadora chinesa que se estreou em 2015 em Sundance com Songs My Brothers Taught Me, filme ao qual se seguiu The Rider (2017), estreia-se agora em Veneza, na mesma altura em que tem em preparação também Eternals, para a Marvel, Nomadland. Uma produção americana protagonizada por Frances McDormand, David Strathairn, Linda May e Charlene Swankie e adaptada por Chloé Zhao, que assina também o argumento, do livro Nomadland: Surviving America in the Twenty-First Century, de Jessica Bruder.

 

Salvatore: Shoemaker of Dreams

É a estreia no documentário do realizador de Call Me By Your Name. Em colaboração com a jornalista de moda Dana Thomas, Luca Guadagnino percorre a história de vida do designer de sapatos Salvatore Ferragamo – da infância em que aprendeu a fazer sapatos à carreira que o catapultou para Hollywood, onde desenhou os sapatos que calçaram atrizes como Marilyn Monroe ou Audrey Hepburn. Salvatore:_Shoemaker of Dreams marca também um regresso à colaboração com o ator Michael Stuhlbarg (Call Me By Your Name), que empresta a sua voz à narração do filme.

 

Nuevo Orden

«O mais ambicioso e negro dos filmes de Franco até aqui». Palavras de Alberto Barbara, diretor do festival, para descrever a mais recente longa-metragem do mexicano Michel Franco (Después de Lucía, Chronic e As Filhas de Abril). Este seu mais recente filme que estreia agora em Veneza parte de uma festa de casamento de alta sociedade interrompida por um grupo que não foi claramente convidado. A partir daí, a história será contada através do olhar da noiva e dos empregados. Tudo isto num tempo que é mesmo este, com um sistema político em colapso como pano de fundo.

 

Mainstream

Entre as novidades mais aguardadas deste 77.º Festival de Cinema de Veneza conta-se ainda Mainstream. Desde Palo Alto que Gia Coppola é mais do que um nome de linhagem facilmente identificável no cinema. Neta de Francis Ford Coppola, sobrinha da autora de Virgens Suicidas (1999). Depois da estreia em Veneza dessa que foi a sua primeira longa-metragem, já em 2013, a espera fez-se longa até este regresso, com Mainstream. «Um filme original que casa a bola de neve do narcisismo de Um Rosto na Multidão, de Elia Kazan, com a ubiquidade do amor por si próprio da era das redes sociais», analisa a IndieWire. Com o protagonismo entregue a Maya Hawk e – Frankie e Jake. Ao partilhar um vídeo pretensamente anti-mainstream de Link, outra das personagens, que inesperadamente se torna viral, os três ascenderão ao estrelato da era digital. No final, Mainstream será, promete a sinopse, «uma história de amor sobre amar-se alguém que não se ama a si, contra a cultura emergente no mundo de hoje».