Washington declara sanções contra Teerão, sem fundamento legal

A manobra deixou os EUA mais isolados. Apesar dos estragos para a sua economia, o Irão cantou vitória.

Os Estados Unidos declararam que as antigas sanções das Nações Unidas contra o Irão, maioritariamente relacionadas com a venda de armas, e impostas antes do acordo nuclear entre Teerão e Washington, em 2015, voltaram a estar em vigor, este domingo, ameaçando represálias contra os países e entidades que não as cumprissem. A vasta maioria da comunidade internacional, incluindo 13 dos 15 países com assento no Conselho de Segurança da ONU, garantiu que a declaração não tinha qualquer valor legal. Mas isso não impediu o valor do rial, a moeda do Irão, de cair a pique após o anúncio. No sábado, um dólar valia 267 mil riais, no domingo valia 273 mil – segundo a Reuters, uma queda recorde.

É amplamente esperado que a China e a Rússia desafiem as sanções declaradas pelos EUA, expondo-se a retaliações norte-americanas e agravando as tensões entre estes países. Alguns analistas pensam que Pequim e Moscovo poderão aguardar uns meses e adiar grandes vendas de armas a Teerão, à espera do resultado das eleições norte-americanas.

Outros temem que os Estados Unidos decidam unilateralmente revistar navios em águas internacionais, no estreito de Ormuz. Seria uma escalada imediata das tensões, e a reação de Teerão imprevisível – o Irão vê-se como o guardião natural desta passagem marítima, uma das mais importantes do globo, por onde passa cerca de um quinto do petróleo mundial. 

Apesar do impacto das sanções na economia iraniana, agravado pela pandemia de covid-19, Teerão vai conseguindo manter a sua população descontente sob controlo. E no braço-de-ferro diplomático, a liderança iraniana vê-se como estando na mó de cima, enquanto Washington puxa de medida unilateral atrás de medida unilateral.

“Hoje, podemos dizer que a ‘pressão máxima’ dos EUA contra a nação iraniana, legal e politicamente, mudou para ‘isolamento máximo’ para os Estados Unidos”, gabou-se este domingo o Presidente do Irão, Hassan Rouhani, salientando que as declaração de sanções dos EUA “enfrentou a derrota e uma resposta negativa da comunidade internacional”.

“Creio que vamos ver um momento em que a política de sanções dos EUA chega à exaustão”, disse Ellie Geranmayeh, investigadora do Conselho Europeu de Relações Estrangeiras, ao Guardian. A premissa das sanções “era tentar isolar o Irão no plano político, o que não aconteceu até agora”