Praxes académicas. Fiscalização e desacordo: “É completamente irresponsável”

Eduardo Cabrita garante que atividades vão ser fiscalizadas. Sindicato do ensino superior lança duras críticas e diz que é uma questão de “consciência”.

As aulas presenciais no ensino superior recomeçaram esta semana, mas a grande maioria dos alunos só voltam às universidades no próximo dia 28 de setembro. E com o arranque do ano letivo regressam também as atividades lúdicas e os rituais de iniciação, como as praxes académicas. Mas, em tempos de pandemia de covid-19, todo o cuidado é pouco e o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, já alertou que todas estas práticas vão ser fiscalizadas, apelando à moderação dos estudantes nesta altura do ano.

“As tradicionais praxes, este ano, têm de ser outra coisa e, portanto, não é possível o tipo de práticas coletivas que ponham em causa a saúde dos próprios e a saúde dos amigos, da família, da comunidade”, começou por dizer esta quarta-feira, em Elvas, distrito de Portalegre, acompanhado pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues. E acrescentou: “Não está em causa a autorização de praxes. Elas não dependem de um processo de autorização. Eu diria é que as regras sobre ajuntamentos e as regras sobre saúde se aplicam às praxes”.

No entanto, o Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESup) não vê com bons olhos a realização destas atividades em pleno período pandémico. Ao i, o presidente do SNESup, Gonçalo Velho, sublinhou que os alunos universitários, sendo adultos, precisam de agir como tal, principalmente quando podem colocar em causa a sua saúde e a saúde dos outros.

“É completamente irresponsável. Os alunos têm de compreender que são jovens adultos. Necessitam de se comportar como adultos, e não como adolescentes. A questão das praxes transporta um comportamento adolescente para o ensino superior que é completamente desadequado, mais ainda numa situação de saúde pública como aquela que estamos a atravessar. Somos completamente contra”, explicou, adiantando que numa situação “especial” como esta que vivemos, o objetivo dos alunos deveria ser condizente com o de todo o país desde março: reduzir o número de contágios por covid-19.

“Estamos a voltar à atividade presencial para procurar o mínimo risco possível. E estar a aumentar o contacto através dessas atividades significa arriscar. Estamos todos a fazer um esforço pelo país, para procurar minimizar os números e evitar situações de contacto. Por isso, como se admite esta irresponsabilidade que são as praxes?”, questionou Gonçalo Velho, dizendo que se trata de “uma questão de consciência”.

Praxes em Coimbra vão realizar-se
 Universidade de Lisboa proibiu quaisquer atividades relacionadas com praxes académicas. No Porto, também não haverá estas atividades. Mas o conselho de veteranos da Universidade de Coimbra já veio a público confirmar a realização das praxes, com algumas medidas de prevenção: uso obrigatório de máscara; proibição de mobilizações com mais de dez participantes; interdição de todas as interações e atividades que envolvam contacto físico; distância mínima de segurança de dois metros; e punição no caso de incumprimento das normas sanitárias, “passível de processo disciplinar junto da universidade”.

No Minho, porém, a indecisão quanto à realização de praxes académicas continua, aguardando-se ainda uma resposta do chamado cabido de cardeais da Universidade do Minho.