Os fanáticos de Maomé e os visionários da bola

Futebol sem espetadores não faz grande sentido, embora o campeonato inglês nos faça acredita no contrário.

1. O atentado de ontem em Paris, perto das antigas instalações do jornal satírico Charlie Hebdo, veio demonstrar ao mundo que não será a pandemia que irá travar os fanáticos islâmicos. Se não têm armas de fogo servem-se do que têm à mão, no caso algo semelhante a machados, para continuarem a sua política do medo. Numa altura em que a população mundial se debate com o pavor de contrair o coronavírus, os fanáticos do Estado Islâmico querem baralhar ainda mais a vida a quem não se verga à sua ditadura. O ataque não deverá deixar de ter em conta que os fanáticos que há uns anos entraram a matar nas instalações do Charlie Hebdo começaram a ser julgados na capital francesa.

Também o facto de o jornal satírico ter republicado os cartoons de Maomé poderá ter desencadeado o ataque. Mas será por causa de fanáticos que deveremos começar a fazer autocensura? Não creio.

2. Os estádios portugueses de futebol vão continuar às moscas, no que diz respeito a público, apesar dos apelos de alguns clubes. É tudo um pouco estranho, pois na Europa há decisões para todos os gostos. Ainda esta semana a final da Supertaça Europeia, realizada em Budapeste, teve cerca de 20 mil espetadores. O jogo entre o Bayern e o Sevilha realizou-se num dos países com mais novos casos de infeção, a Hungria, não se percebendo por isso a decisão da UEFA. Mas na Holanda, onde os estádios podem receber uma percentagem reduzida de adeptos, os governantes já ameaçaram voltar atrás se os espetadores não se mantiverem sentados e sem gritarem de alegria pelos golos da sua equipa ou pelos impropérios aos árbitros e adversários. Será essa uma equação possível?

Estou em crer que em Portugal houve um verdadeiro visionário nesta matéria. O presidente do Belenenses SAD, Rui Pedro Soares, chegou a ponderar levar a sua equipa para o Alentejo, onde calculo que existam muitos adeptos do clube… O mundo da bola chegou a este ponto. Alguém compra a SAD de um clube e retira-lhe o seu ADN: os sócios e o emblemático campo. Afinal, o que interessam os sócios? Rui Pedro Soares deve ter boas fontes na China que lhe terão dito que os jogos neste ano não iam ter espetadores…

Fui um adepto confesso de futebol e há muitos anos que subscrevo o canal desportivo, mas estive mesmo para anular a assinatura, pois a bola sem espetadores não faz grande sentido. Mas quando estava para anular a assinatura vi um jogo que me fez voltar atrás: o Liverpool-Leeds, um autêntico show para quem seja apreciador da arte.

3. Maria José Morgado, que tem estado afastada dos holofotes mediáticos, conduziu o processo que constituiu três juízes como arguidos. A polémica magistrada merece o nosso respeito, pois faz-nos acreditar que ainda há Justiça neste país. Se todos os arguidos são ou não culpados logo se verá na barra dos tribunais, mas a procuradora sempre revelou uma coragem notável.

4. Será que algum dia saberemos o que se passa com a compra da TVI? Como terá surgido o interesse no negócio de figuras como Pedro Abrunhosa, Tony Carreira, Cristina Ferreira ou o jovem aprendiz de ator Lourenço Ortigão? Há um facto que é indesmentível. Em Portugal a rapaziada do espetáculo deve ganhar fortunas pois, diz-se, o mínimo com que entraram foi meio milhão de euros…

vitor.rainho@sol.pt