Como uma petrolífera pode influenciar o apoio a Moçambique

A Total e Moçambique assinaram um acordo que não foi bem aceite por várias instituições.

França é outra possibilidade para oferecer apoio a Moçambique. A multinacional petrolífera francesa, Total, celebrou nesta zona acordos com o Governo moçambicano que tornaram a subsidiária da petrolífera, Total Trading & Shipping (Totsa), a nova importadora de combustíveis para Moçambique a partir de novembro e asseguraram o entendimento e operacionalização de uma força conjunta para a segurança do projeto de gás natural do consórcio da Área 1 da bacia do Rovuma, norte de Moçambique. O comunicado divulgado pela Total avançava que o consórcio Total E&P Mozambique Área 1 iria prestar apoio logístico à força conjunta.

A Total comprometeu-se ainda a alimentar (literalmente) as Forças de Defesa e Segurança (FDS) até ao final da luta contra os grupos armados que invadem a província de Cabo Delgado.

Numa primeira fase, a multinacional irá garantir toda a comida para as bases militares de Afungi, nomeadamente a ‘JFT main base’, a base da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) e mais cinco bases de patrulha na região, e, na segunda fase, o ‘catering’ deve abranger ainda as bases militares de Mocímboa da Praia, Macomia e Mueda.

Este acordo foi recebido com grande indignação. A ONG francesa Les Amis de La Terre acusou o Governo francês de «ajudar a acender as tensões na província de Cabo Delgado, apoiando empresas multinacionais de gás e a militarização da zona».

A ONG Centro de Integridade Pública acusou o acordo de descriminar as empresas locais e ignorar o impacto do conflito armado noutros pontos da província de Cabo Delgado, ao incidir geograficamente a atuação do entendimento na Área 1. «O memorando de entendimento [entre Governo e Total] terá impacto direto na vida das comunidades locais, do empresariado da província, na capacidade de fiscalização do Instituto Nacional de Petróleos [INP], do Instituto Nacional de Minas [Inami] e na vida dos moçambicanos, em geral», observa o CIP.

 

Acordo marítimo

Em julho, Moçambique e França discutiram um acordo de cooperação militar marítima, onde os europeus mostraram «o seu apoio às autoridades moçambicanas na luta contra o terrorismo islâmico em Cabo Delgado».

«Nenhum apoio militar operacional foi fornecido a Cabo Delgado pelas autoridades francesas, mas um acordo de cooperação militar no campo marítimo está atualmente em discussão», explicou uma fonte diplomática no país francesa.

A relação franco-moçambicana assenta na vizinhança entre os dois países no sudoeste do oceano Índico, onde França mantém territórios ultramarinos.

As Forças Armadas Francesas da Zonal Sul do Oceano Indico (FAZSOI) têm promovido cooperação militar, «realizando treinos com as autoridades moçambicanas sobre a ação do Estado no mar, como propuseram no passado no campo da luta contra a pirataria».

A província de Cabo Delgado é palco há três anos de ataques armados desencadeados por forças classificadas como terroristas. A violência provocou uma crise humanitária com mais de mil mortos e cerca de 365 mil deslocados internos.