Portugueses têm a saúde que o Bloco autoriza

Apesar de boas para os utentes e para os contribuintes, a malapata com as PPP tem razões estritamente políticas: o Bloco de Esquerda não as quer e como o Governo PS está cativo do BE para provar os orçamentos, cede. Manda a verdade que se diga que também a ministra da saúde, bastante à esquerda,…

António Costa fala muito, mas palavras leva-as o vento. Quando apresentou com António Costa e Silva o plano de recuperação para Portugal, sublinhou o SNS como um pilar fundamental/crucial/vital para o país. Foi exatamente na mesma semana em que, sobre esse mesmo SNS, ficámos a saber que um milhão de portugueses não tem médico de família (quando em agosto de 2019 eram cerca de 700.000); e quando ficámos a saber que o hospital público da zona oriental de Lisboa (em Marvila) foi adiado, mais uma vez.

Enquanto este é o cenário público do SNS, ao mesmo tempo, o setor de saúde privado avança: foi inaugurado o hospital CUF Tejo, em Alcântara, com um investimento de mais de 170 milhões de euros, pertença do Grupo José de Mello. O mesmo Grupo que já teve parcerias público-privadas com o Estado e cujo responsável, Salvador de Mello, declarou «as parcerias na saúde acabaram» ou «perdemos muitos milhões de euros com as PPP», isto apesar de se saber que quer o hospital de Braga quer o de Vila Franca de Xira (ambos em PPP) foram boas para o utente e para o contribuinte.

Apesar de boas para os utentes e para os contribuintes, a malapata com as PPP tem razões estritamente políticas: o Bloco de Esquerda não as quer e como o Governo PS está cativo do BE para provar os orçamentos, cede. Manda a verdade que se diga que também a ministra da saúde, bastante à esquerda, nunca escondeu que não as queria.

A inauguração do hospital CUF Tejo obriga, porém a uma breve resenha já que o pai do hospital é, por incrível que pareça, o próprio António Costa, como já contei nesta coluna.

Estávamos na Assembleia Municipal de Lisboa, no início de dezembro de 2014, quando se soube que a José de Mello Saúde tinha apresentado um PIP (Pedido de Informação Prévia), em maio de 2013, para a construção de um hospital num terreno municipal.

Esse terreno tinha mais de 20 mil metros quadrados e nele estava instalada a Direção Municipal de Ambiente Urbano, onde trabalhavam 330 funcionários municipais. Situado entre a avenida 24 de Julho, a avenida da Índia e a rua de Cascais, era justamente conhecido como triângulo dourado, uma das joias da coroa do município.

O executivo camarário foi acusado de estar a promover uma grande farsa já que estavam a simular ir fazer e vender em hasta pública um terreno no qual uma empresa de saúde privada já tinha manifestado interesse.

A hasta pública do ‘triângulo dourado’ teve lugar a 22 de janeiro de 2015 com a Câmara de Lisboa a prever arrecadar um valor mínimo de 20,350 milhões de euros. Nesse dia, uma empresa ligada à José de Mello Saúde adquiriu à Câmara de Lisboa, em hasta pública, o lote na av. 24 de julho. Qual o valor? Um euro acima do valor base de licitação.

Recordemos que desde maio de 2013 havia um Pedido de Informação Prévia (PIP) para a construção de um hospital no lote que veio a adquirir.

Eram um terreno do município. Foi feita uma hasta pública. Só um hospital privado concorreu. O município só recebeu um euro a mais do que tinha pedido. O presidente da Câmara de Lisboa era António Costa.

Enquanto presidente da Câmara, António Costa vendeu um terreno municipal ao grupo Mello por vinte milhões de euros para lá ser construído um hospital privado, como havia vendido o terreno municipal da Luz ao grupo Espírito Santo por 15 milhões de euros também para expandir o hospital privado, mostrando não ter nada contra os hospitais privados, antes pelo contrário.

Não acredito que o mesmo António Costa, agora Primeiro-Ministro, tenha mudado assim tanto de opinião. Mas objetivamente prejudica a saúde dos portugueses ao negar entendimentos com o setor privado apenas e só porque o Bloco de Esquerda e o PCP são contra a propriedade privada. António Costa vai se mantendo Primeiro-Ministro, mas a saúde dos portugueses degrada-se de dia para dia.