Democracia ao ‘pé-coxinho’…

O PS é o partido com maior longevidade no poder depois do 25 de Abril. Está infiltrado no aparelho de Estado, através de inúmeros fiéis…

Aturdidos com o ‘ruído’ dos media, quer ao debitarem ‘histórias da carochinha’ nos telejornais, quer ao conceder ‘tempo de antena’ a adeptos de ditaduras arvorados em comentadores, os portugueses fingem que acreditam no ‘fogo de artificio’. E ‘vingam-se’ ao absterem-se de votar, alheando-se das consultas eleitorais. E são já a maioria.

Quase meio século volvido sobre o movimento de militares, que varreu de cena o anterior regime, o Partido Socialista governa hoje, com tiques de ‘quem quer, pode e manda’. Não mudou muito desde os delírios de Sócrates à fuga de Guterres, assustado com o pântano. E, embora Mário Soares tenha metido, sensatamente, o socialismo na gaveta, não faltam os candidatos apostados em ‘ressuscitá-lo’, a beneficio das suas vaidades ou de outras fraquezas.

Soares percebeu ainda, lucidamente, que, perdido o sonho colonial, o futuro só poderia passar pelo velho continente, a única forma de escapar à miséria absoluta, ao estilo de Cuba ou da Venezuela, para onde os extremismos queriam (e querem…) empurrar o país.

O PS é o partido com maior longevidade no poder depois do 25 de Abril. Está infiltrado no aparelho de Estado, através de inúmeros fiéis, e tornou-se mestre na arte da dissimulação e em descartar responsabilidades sempre que as coisas correm mal.

Para segurar o poder, apeou gente incómoda nos media, onde ‘plantou’ serventuários vocacionais, desejosos de mostrar serviço.

Com boa parte dos media controlados, o objetivo seguinte foi naturalmente ‘domesticar’ a Justiça, substituindo algumas peças que teimavam em resistir à vassalagem. Finalmente, pôs-se a tropa de ‘folga’ em quartéis, envergonhada com a indignidade de Tancos, à mercê da corrupção das messes ou, ainda, humilhada com a diretiva do Ministério da Defesa sobre o género. Um perfeito absurdo.

Hoje, como na era de Sócrates, encharca-se o espaço público com projetos de muitos milhões, mas, na prática, compra-se ‘ferro-velho’ a Espanha, carregado de amianto, para atrelar aos comboios, apresentado como um bom negócio.

Com mais ou menos temas fraturantes, os atores revezam-se segundo uma lógica dinástica, preenchendo o governo em circuito fechado, sem oposição que lhe fiscalize os atos, enquanto o Parlamento ficou diminuído, sujeito à versão minimalista de debates, negociada entre o PSD e o PS, para sossego do primeiro ministro.

Como o «jogo não está ganho», conforme assumiu António Costa, ao declarar o estado de contingência, a ‘nova normalidade’ consiste em não fechar o país.

Com milhões de consultas adiadas e centenas de milhares de cirurgias em fila de espera, bem pode a ministra Marta Temido prometer que os hospitais públicos vão recuperar os atrasos. Ninguém acredita.

A realidade é que o SNS, já ‘convalescente’ antes da covid-19, precisou de fazer das ‘fraquezas força’ perante a pandemia, com visível prejuízo dos doentes portadores de outras patologias.

Mas como estamos no ‘reino do faz de conta’, acena-se com um programa estratégico para a década, com o dinheiro de Bruxelas, enquanto as ‘hortenses’ deste país esfregam as mãos de contentes..

Em matéria de grandes planos, para ‘encher o olho’, António Costa mantém-se igual a si próprio. Já em março de 2015, quando se propunha substituir Passos Coelho, anunciava 55 medidas integradas naquilo a que chamou «o primeiro capítulo do programa de Governo». Fê-lo ainda presidente do Município de Lisboa.

Nesse plano havia de tudo um pouco, desde a descentralização e politica de proximidade, à valorização do interior, à entrega de mais competências às autarquias, à aposta nas energias renováveis, além de serviços públicos mais próximos e eficientes, entre outros itens. Viu-se.

Se formos pacientes e compararmos o referido ‘pacote’ com o ‘Plano de Recuperação e Resiliência’ apresentado pelo mesmo António Costa, veremos que as coincidências não são pontuais.

Moral da história: em cinco anos pouco se fez. O país continuou alegremente estagnado, na ‘corda bamba’, com um elevado endividamento, apesar dos fundos europeus.

Como a nossa cultura de exigência é fraca e a memória curta, não admira que boa parte do programa de 2015 tenha ficado no tinteiro… Mas ninguém se importa. Sem oposição, e sem escrutínio, a democracia faz-se ao ‘pé-coxinho’…

Nota em rodapé : A vinda a Lisboa de Ursula von der Leyen serviu para um bom ‘show’ mediático. E para o país ficar a saber que não temos condições para negociar mais empréstimos europeus, atendendo ao nível elevado da dívida pública (132% do PIB, com previsão de subida superior a 135%…), e que só aceitamos, por isso, subvenções a fundo perdido. Ou seja: estamos na linha da frente, de mão estendida. E a ‘chave do cofre’ fica à guarda de António Costa… ponham-se em fila!…