O ultimato a Madrid

Governo de Espanha decretou novas medidas de restrição para controlar a subida de infeções. Apesar de refutar inicialmente, Madrid acabou por aceitar as novas regras.  

De forma a travar a subida de infeções de covid-19, o Governo de Espanha pretende aplicar novas medidas restritivas a toda Madrid, onde se localizam grande parte dos casos, e às cidades na sua periferia. O decreto publicado na madrugada de quinta-feira diz que a sua implementação é «obrigatória para todas as regiões» no prazo máximo de «48 horas».

Apesar de inicialmente o Governo regional de Madrid, afetado por 859 casos novos por cada 100 mil habitantes, ter recusado voltar a fecha as portas, as autoridades regionais de Madrid anunciaram um isolamento parcial a ter «efeito imediatamente», disseram as autoridades à Reuters. 

O confinamento será imposto às localidades espanholas que superem a taxa de 500 contágios de coronavírus por cada 100.000 habitantes num período de 14 dias, taxa de casos positivos superior a 10% e ocupação de unidades de cuidados intensivos superior a 35%. Poderão evitar o cenário se tiverem 90% dos casos com a cadeia de infeção conhecida.Por enquanto, as localidades que terão de enfrentar estas restrições são Alcalá de Henares, Alcobendas, Alcorcó n, Fuenlabrada, Getade, Leganés, Torréjon de Ardoz, Móstoles e Parla.

Uma cidade impossível de parar
As medidas envolvem a proibição de viagens até à capital espanhola, com exceção para aqueles que tiverem motivos essenciais, como trabalho, visitar médicos, ir para a escola ou para fazer compras. Bares e restaurantes vão passar a encerrar à uma da manhã em vez de às 11 da noite.

O El País escreveu sobre as dificuldades em isolar a capital espanhola, onde se encontram o aeroporto de Barajas e as estações de comboios Atocha e Chamartín,  dos mais importantes centros de transportes para o resto do país. «Isolar uma cidade como a capital espanhola será praticamente impossível de administrar», pode ler-se no jornal espanhol. «São mais de 2,2 milhões de viagens por dia entre Madrid e as restantes localidades da região. Muitas dessas viagens serão justificadas com as novas regras, visto que 40% das viagens são para fins de trabalho ou educação».

Para além das medidas acima mencionadas, apenas será permitido um máximo de seis pessoas em ajuntamentos sociais; encerram  parques infantis; há novos limites em velórios; hotéis, restaurantes e casinos  passam a operar com uma lotação máxima entre 50%, em espaços fechados, a 60%, em espaços abertos; restaurantes e bares só podem aceitar até um máximo de seis pessoas e desportos (não federados) não podem ser praticados por mais de seis pessoas ao mesmo tempo. 

Madrid cede mas não verga
Apesar de inicialmente ter afirmado que a capital não apoiava estas medidas, a presidente da Comunidade de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, voltou atrás e informou que a capital cumprirá «de maneira estrita» as ordens do Governo. «Esta comunidade não está em rebeldia, este Governo não está em rebeldia», disse na Assembleia regional de Madrid.
Contudo a presidente não deixou de salientar que, uma vez que foram aprovados temas sem o consenso das comunidades autónomas, irá levar o Executivo aos tribunais para «defender os interesses legítimos dos madrilenos». O ministro da Saúde, Salvador Illa, recordou que Madrid regista 43,7% dos casos em Espanha e é por isso que sofre medidas mais exigentes. «Quando vamos ao médico, esperamos que nos digam a verdade», cita o The Guardian. «Como Governo de Espanha, temos responsabilidades perante a saúde das pessoas. A situação em Madrid é complicada e preocupante, mas a curva [da evolução da pandemia] pode e vai achatar, por isso é que chegámos coletivamente a estas medidas». 

Madrid, Catalunha, Galiza, Múrcia e Ceuta informaram já que não apoiavam esta decisão. Em Espanha, as autoridades regionais têm competência exclusiva em matéria de saúde e o Governo central não tem o poder de impor as decisões. As negociações deste acordo, agora firmado, apenas têm contribuído para criar mais fraturas entre o Governo espanhol e os Governos regionais.

Com 778.607 casos de infeção e 31.973 mortes, Espanha é um dos focos mais preocupantes de covid-19 no mundo.