O cavaquismo, por quem o viveu e fez

Em Uma Experiência de Social-Democracia Moderna, Cavaco Silva une vários tempos a partir de uma era. O SOL conversou com quem a viveu e a fez.

Antiga líder do PSD, antiga ministra das Finanças, ministra da Educação de Cavaco Silva, colaboradora dos seus Governos, indefetível apoiante e amiga, Manuela Ferreira Leite faz uma síntese do impacto do cavaquismo em várias áreas.

«Durante o seu mandato, deu-se efetivamente o processo de transformação do país relacionado com a integração europeia. Tínhamos acabado de entrar – muitas exigências, muitas perspetivas – e Cavaco Silva não ficou por anúncios: executou», salienta a social-democrata.

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«A transformação tremenda do país e da sociedade é realmente uma transformação do mandato dele, daqueles dez anos – e que ainda hoje se vê».

«Quando nos queixamos de as coisas como estão hoje, temos de pensar do que era Viseu, Braga, Castelo Branco. Quando uma pessoa se casava, tinha ir ao Porto, a Lisboa ou a Coimbra comprar o enxoval», sorri, ao telefone. Depois do cavaquismo, a coesão entre o território passou a ser outra.

Executando uma avaliação transversal das áreas de governação, Ferreira Leite aponta, em primeiro lugar, o sistema educativo como uma das áreas em que essa transformação se deu em força. «Foi fundamental. Colocou uma escola em todo o lado. A sua política teve sempre um objetivo de coesão social. Isso é muito visível. Olhe para o mapa do país», sugere. «Foram feitas universidades no Minho, em Trás-os-Montes, na Covilhã, em Évora, no Algarve. Havia uma visão que cobria o país de norte a sul. Isto sem falar dos politécnicos», aponta a senadora do PSD.

Nas infraestruturas, recorda, a coesão territorial também era um princípio. «Fizeram-se estradas para unir o interior ao literal, o norte ao sul. Não era política ‘de betão’. Era uma política de aproximação das populações, de não as deixar isoladas».

No que toca a reformas, Ferreira Leite destaca a fiscal («Havia um conjunto enorme de impostos que foram concentrados, assim melhorando o combate à evasão fiscal e garantindo um aumento de receita, uma melhor justiça e distribuição tributária, antes impensável») e a da administração pública: «Fez e não tem repetição. Foi criado um novo sistema retributivo que alterou totalmente a lógica das diferentes carreiras da administração pública. Passou a haver uma diferenciação; aquilo que ainda hoje chamamos ‘as carreiras especiais’». E é essa lógica reformista e de iniciativa transversal que a social-democrata enaltece deste tempo, no aniversário da primeira vitória de Cavaco Silva.