Cavaco, de Professor a líder

Isabel Mota, que conheceu Cavaco Silva como seu professor de Económicas e acabaria por ser convidada para o seu Governo de ‘87 ao vir a Portugal para votar, conta ao SOL por que se tratava de um convite irrecusável.

«Era um apelo de cidadania, a oportunidade de fazer parte de um conjunto de coisas que julgava importantes para o país. Um projeto que vinha já desde Sá Carneiro e que o Professor Cavaco Silva veio ilustrar e concretizar. Era a modernidade que vinha aí, a promessa de um país diferente», conta Isabel Mota, que havia estado na REPER e regressava assim ao país para servir o Governo de Cavaco.

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Hoje presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, falou ao SOL desse tempo como dedicado «à verdadeira essência da nobreza da política», com «confiança e sentido de futuro». «Foram feitas muitas coisas. Nos termos tradicionais, muita coisa que se diria de esquerda, muita coisa que se diria de direita. Mas a essência de cada medida era construir futuro, era responder às ansiedades do país».

Mota, que só aderiu ao PSD em 1995, servindo os executivos cavaquistas como independente, conta que entrou «na política por conta do projeto que Professor Cavaco Silva representava», não tendo então qualquer filiação.

Responsável pela pasta do Desenvolvimento Regional, muito ligada à Europa, lembra a «preocupação constante com a economia local» e a faceta «muito diversificada do então primeiro-ministro». «Talvez seja um lado não tão sublinhado, mas havia uma enorme consciência social. A par da abertura da economia, das infraesturutras, havia essa consciência. Sendo uma uma área complexa, que nunca está terminada, abriram-se nesse tempo bases para uma sociedade mais justa e igualitária», afirma, exemplificando «enorme apoio popular que Cavaco Silva teve» como prova. «Estava a ser preparado um futuro que olhava para todos. E as pessoas responderam a isso».

Como líder, relata a presidente da Fundação Gulbenkina, Cavaco «transmitia um enorme apoio às suas equipas». «Tinha uma capacidade de liderança notável, assente em convicções e confiança».

Do ponto de vista diplomático, a então secretária de Estado não esquece a capacidade do professor como interlocutor europeu. «Lembro-me, por exemplo, de uma conversa que teve com Jacques Delors sobre o aeroporto da Madeira, com quem tinha um excelente relação». E, para Mota, foi essa capacidade de influência na comunidade europeia que também ajudou a trazer «projetos estruturantes para o país». «As nossas evidências mais concretas de modernidade vieram desse tempo», termina.