Casos de covid-19 acima dos 80 anos aumentaram 30% na última semana

Foi o grupo etário em que os casos de covid-19 mais aumentaram. Portugal está entre os 14 países europeus onde a mortalidade apresenta uma tendência crescente. Contágios entre idosos mais do que duplicaram em setembro e a tendência aumentou nos últimos dias.

O número de casos de covid-19 tornou a aumentar na última semana em todos os grupos etários, mas foi agora entre os idosos com mais de 80 anos que se registou a maior subida. Nesta segunda-feira, morreram 14 pessoas por covid-19 no país e o aumento dos contágios entre idosos, que se tem verificado nas últimas semanas e se acentuou nos últimos dias, continua a sugerir um aumento da mortalidade.

Analisando os dados disponibilizados pela Direção Geral da Saúde, verifica-se que na semana passada, de segunda-feira a domingo, foram diagnosticados em todo o país 5.547 novos casos de covid-19, uma subida de 10% face ao balanço da semana anterior. Com os casos a aumentar em todos os grupos etários, percebe-se no entanto que as maiores subidas se registaram entre os idosos com mais de 80 anos (um aumento de 32,8% face à semana anterior), seguindo-se o grupo das crianças e jovens entre os 10 e os 19 anos de idade (23%). A maioria dos novos casos continua a registar-se entre os 20 e 50 anos (46% do total de casos), mas o peso dos idosos acima dos 70 nas novas infeções subiu de 13,8% para 15,2%. Está longe dos 25% que chegaram a representar no início da epidemia, mas com o aumento dos casos diários, que começam a superar a incidência dos primeiros meses de covid-19, têm vindo a ser um grupo cada vez maior. Em agosto foram diagnosticados 944 casos em idosos com mais de 70 anos. Para se ter uma ideia do aumento, só na semana passada foram registados 844 novos casos neste grupo etário. Na semana anterior tinham sido 694 casos.

Óscar Felgueiras, investigador da Universidade do Porto que desde março faz a modelação da epidemia, já tinha antecipado em setembro ao SOL que – dado o aumento de contágios entre idosos acima dos 80, que voltavam então a ser o terceiro grupo etário com maior incidência por 100 mil habitantes – seria quase inevitável um aumento da mortalidade ao longo das semanas seguintes. O número de óbitos diários tem vindo a aumentar desde então e nesta segunda-feira registaram-se 14 mortes no espaço de 24 horas, o que não acontecia desde o início de junho. A evolução da epidemia, em particular no grupo etário dos 80 anos, sugere que a mortalidade por covid-19 deverá manter-se com tendência crescente, acima dos 10 óbitos diários.

Na última sexta-feira, na conferência de imprensa da DGS que encerrou a semana, o i questionou a diretora-geral da Saúde sobre a evolução dos casos entre idosos e sobre se estavam identificados outros contextos de infeção além de lares, onde tem havido um aumento de surtos ativos, e futuras medidas.

Graça Freitas reconheceu um aumento dos casos entre os idosos acima dos 80 anos, considerando que as variações têm sido pequenas. A diretora-geral da Saúde explicou que, com o aumento da circulação do vírus, maior é o risco de contágio intergeracional, elogiando no entanto o padrão das últimas semanas no país em que há ainda assim menos casos entre os idosos do que no início da epidemia – o que atribui aos cuidados das famílias e instituições.

DGS afasta suspensão de visitas a lares Para já, a DGS parece também afastar medidas como a suspensão das visitas em lares. “É mais fácil que a transmissão se faça através dos profissionais pelo motivo óbvio de que são os que entram e saem todos os dias para trabalhar”, disse Graça Freitas, não adiantando no entanto se está prevista alguma alteração nas rotinas ou testagem dos profissionais. É esperada nos próximos dias a apresentação da estratégia de testagem para os próximos meses, que poderá passar a incluir testes rápidos, não se sabendo ainda em que contextos serão utilizados. Ainda sobre os idosos, Graça Freitas deixou um apelo às famílias para que protejam os seus parentes mais velhos mas não os tranquem em casa, promovendo cuidados como o uso de máscara e redução de contactos, mas mantendo alguma normalidade no dia a dia.

Mais idosos infetados em Lisboa A subida de casos nas últimas semanas tem sido acompanhada de mais doentes internados nos hospitais. A região de Lisboa tem tido até aqui maior pressão – unidades como o Hospital de Loures, Amadora-Sintra ou Curry Cabral ultrapassaram já a lotação inicialmente prevista para doentes covid-19. O presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo garantiu no fim de semana que passará a haver uma maior coordenação das vagas disponíveis. Já o bastonário dos médicos alertou nesta segunda-feira que mais quatro dias com muitos casos e os hospitais poderão ficar à beira da rutura.

Embora a nível nacional não seja divulgada informação sobre a idade dos doentes por região, os dados reportados pela DGS ao Centro Europeu de Controlo e Prevenção, sintetizados nos relatórios semanais do organismo, mostram que na região de Lisboa, tanto na área metropolitana como no Ribatejo e Médio Tejo, tem havido até aqui uma maior incidência de casos entre os idosos com mais de 80 anos do que no Porto, onde têm sido um grupo muito menos afetado do que no início da epidemia. Também o Alto Alentejo, Ave e Trás-os-Montes registam incidências mais elevadas entre idosos.

Nesta terça-feira registaram-se 427 novos casos mas o facto de ter sido feriado na segunda-feira, com menos laboratórios a funcionar, será a principal explicação. Apesar de terem sido notificados menos casos, houve um aumento de 31 doentes hospitalizados, uma das maiores subidas em 24 horas nas últimas semanas. Segundo o último relatório epidemiológico do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, divulgado na sexta-feira, o RT (indicador que dá um indicação sobre o crescimento da epidemia) é agora de 1,07 a nível nacional, o que sugere um ritmo de crescimento mais lento do que em meados de setembro, mas ainda uma trajetória crescente. Apesar de Lisboa ter registado até aqui a maioria dos casos, os peritos do INSA calculam um RT superior na região Centro, no Norte e Algarve. Tudo isto sugere que o número de casos confirmados esta semana no país deverá tornar a ser superior ao da semana passada, devendo chegar ao patamar dos mil casos diários.