De mal a pior

Este objetivo estratégico dos EUA, formulado pela atual administração, é comum ao de uma eventual administração ‘democrata’. Porém, não é só a China que está em causa, mas sim todo o vasto conjunto de países que não alinharão com esse propósito, incluindo, naturalmente, a Rússia.

Vi na net a entrevista do Secretário de Estado Mike Pompeu dada à Fox News no passado dia 28 setembro (está em https://video.foxnews.com/v/ 6195109860001#sp=show-clips). Aí o homem afirma com clareza que a ameaça maior aos EUA é o Partido Comunista Chinês dirigido por Xi Jinping e que o maior erro que os EUA cometeram foi a ‘abertura’ dada à China a partir da dupla Nixon-Kissinger. Para fazer face a essa ‘ameaça’, os EUA estão a construir uma coalizão mundial contra a China, para obrigá-la a recuar e levar à sua derrota.

Este objetivo estratégico dos EUA, formulado pela atual administração, é comum ao de uma eventual administração ‘democrata’. Porém, não é só a China que está em causa, mas sim todo o vasto conjunto de países que não alinharão com esse propósito, incluindo, naturalmente, a Rússia.

Na ‘frente’ ideológica, assistiremos à mera repetição do estribilho do tempo da URSS: «se não és claramente nosso apoiante ou és agente dos ‘outros’ ou, no mínimo, és um papalvo por eles manobrado;… e terás, da nossa parte, o tratamento adequado». Isto, tanto ao nível pessoal, de cada indivíduo, como ao nível de países.

Na ‘frente’ económica/comercial, irá ser promovido o acelerado decoupling, isto é, o desacoplamento/separação entre os âmbitos económicos, comerciais, financeiros e tecnológicos entre o bloco dirigido pelos EUA e os ‘outros’. Para ajudar a ‘definir campos’, serão largamente (muito mais do que hoje) utilizadas as sanções/castigos económico-financeiros, sociais, etc. de modo a reconduzir alguns tresmalhados ao ‘caminho certo’, não só com o propósito de inibir eventuais aliados dos ‘outros’ como, mesmo, de os levar à rendição e à incorporação do sistema certo (Venezuela, etc.). Este é o único propósito da ‘votação por maioria qualificada’ para fins de ‘defesa dos direitos humanos’ que a Presidente da Comissão Europeia veio cá vender a Portugal.

Ao mesmo tempo, a ‘coalizão’ norte americana irá desenvolver aceleradamente a integração de todas as capacidades  de ‘defesa’ (ataque) dos integrantes e bem como montando os sistemas organizacionais e técnico-militares para o desencadeamento de ações ofensivas, inicialmente para ocupação de zonas ‘indefinidas’ (tais como a do complexo NATO-Turquia-Geórgia-Azerbaijão, de um lado, e Rússia-Arménia-Irão, do outro) e, mais tarde para o lançamento de operações ofensivas em larga escala (na Europa, este processo já está em curso, virado contra a Rússia).

Como as estruturas económicas de cada um dos lados e o respetivo dinamismo são bem diferentes, com alto desnível a favor do ‘inimigo asiático’, será de prever que a solução utilizada no passado para derrotar a URSS, economicamente esgotada e sem capacidade de inovação, não consiga, no próximo confronto com a China, ter êxito. Pelo contrário, quanto mais anos passarem mais debilitada irá ficando a posição ‘ocidental’/norte americana.

Por isso, só restará disponível a ‘opção militar’, de uma guerra nuclear generalizada, enquanto os EUA entenderam que a sua atual capacidade dominante se mantiver e os custos (medidos em milhões de mortos no seu território) se mantiverem no limite do aceitável (sim, porque os mortos e destruições dos ‘aliados’ não entram nesses cálculos de custos…).

Não haverá que, cada um, construir um bunker de proteção e sobrevivência. Haverá sim que fazer gorar os planos norte americanos e ‘impor’, mesmo que com custos temporários, uma política de Paz e de Cooperação no mundo.

Quanto a Portugal, não temos ilusões, será, neste assunto, um mísero lacaio dos EUA (como já bem demonstrado no ‘caso Guaidó’), a não ser que os Patriotas consigam varrer os migueis de vasconcelos pela janela fora.

P.S. – O primeiro debate entre os candidatos à presidência dos EUA mostrou bem o nível intelectual e moral de quem irá presidir ao ‘excecionalista guia da civilização ocidental’… E, por toda esta Europa, andam tantas ‘mentes brilhantes’, democráticas, liberais, muitas ‘de esquerda, a reboque daquele decrépito vómito…