Tribunal de Contas: acender uma vela a Margaret Thatcher

Defendo que por cada euro que o Estado cobre, tem de dar duas explicações: a primeira, porque aquele euro foi exigido; a segunda, como aquele euro foi gasto.

Sou admiradora de Margaret Thatcher. Talvez o facto de eu ser filha e neta de comerciantes explique alguma coisa. Partilho a mesma crença de que não é o Estado que sabe o que é melhor para cada um de nós, mas ao invés, é a cada pessoa que cabe a decisão do que é melhor para si e para a sua família. A mesma crença de que o pilar da vida em sociedade é a autonomia e a liberdade de cada um. A mesma crença de que não há dinheiro do Estado, há apenas dinheiros dos contribuintes. E defendo que por cada euro que o Estado cobre, tem de dar duas explicações: a primeira, porque aquele euro foi exigido; a segunda, como aquele euro foi gasto. 

Invocar a filha do merceeiro tornou-se politicamente incorreto nos dias que correm. Mas não se enganem, haverá sempre necessidade de políticos que representem esses dois grandes sentimentos: a metade das pessoas que acha que o Estado e o coletivo devem imperar; e a outra metade que acha que o individual deve ter a primazia. Tem de haver sempre partidos políticos que representem quem dá a primazia ao coletivo e partidos políticos que representem quem dá primazia ao individuo, à pessoa. 

Ser o representante político de quem pensa de uma certa maneira é ter uma ideologia e ser ideológico é a única forma séria de estar na política. Hoje, fala-se muito em moderação, mas uma moderação como uma desculpa ideal para quem não gosta de ter princípios, regras e valores.

A moderação é uma atitude, mas não é uma política. Na política, temos de ter princípios, regras e valores das quais emanam ideias, opções claras e políticas concretas. 

No cerne da política, está a forma como encaramos o dinheiro que cobramos às pessoas. Um euro a menos nas famílias, é um euro a menos para pouparem, para investirem na educação dos filhos ou para lazer. Euros a menos nas empresas são menos empregos criados. Cada um saberá muito melhor o que fazer ao seu dinheiro do que o Estado.

Esta semana assistimos todos com estupefação ao despedimento sumário do presidente do Tribunal de Contas, o juiz Vítor Caldeira. Sabíamos desde há muito que os presidentes das camaras do Porto e Lisboa, Rui Moreira e Fernando Medina, viam no Tribunal de Contas uma força de bloqueio.

Ora, essa era mesmo a função do Tribunal de Contas: bloquear! Bloquear muito! A minha pena é que o Tribunal de Contas não tenha bloqueado a eito as PPP rodoviárias do consulado Sócrates. 

Rui Moreira terá a reconversão do seu matadouro e Fernando Medina terá as suas casas em PPP pois 2021 é ano de eleições autárquicas e ambos querem-nas ganhar. O novo presidente do Tribunal de Contas deixará de bloquear. Aliás, pelas autarquias de norte a sul do país vamos ver os fulgurantes projetos autárquicos. Vai ser um upgrade de rotundas, piscinas e pavilhões gimnodesportivos, enquanto o desemprego dispara e as famílias vão à falência.

Aquela metade de portugueses que pensa como eu e que paga impostos está contra. Agora chamem-nos radicais e ideológicos.