Lares ou corredores da morte?

As medidas tomadas e os procedimentos anunciados são insuficientes para garantir segurança.

Agravidade da situação da Covid-19 nos lares em Portugal convoca-nos para a consciência de como tratamos os mais velhos, especialmente aqueles que se encontram institucionalizados. Não podemos ficar indiferentes ao drama que se agrava diariamente com o anúncio, dia após dia, de dezenas de novas infecções nos lares.

Esta doença, grave em qualquer circunstância, torna-se crítica entre os mais velhos. O ambiente nas estruturas residenciais para idosos é de verdadeiro confinamento que se torna dramático quando convive com o vírus no seu interior.
A vulnerabilidade dos idosos que se encontram nos lares há muito que foi identificada no contexto da pandemia. Alguns surtos de infecção, como o caso do lar de Reguengos de Monsaraz, denunciaram a insuficiência das medidas de prevenção nestas instituições. A expectativa de uma segunda vaga, coincidindo com a chegada do Outono e a aproximação do inverno – período em que aumentam várias doenças, especialmente entre os mais velhos – conduziu ao anúncio pelo Governo da criação de ‘Brigadas de Intervenção Rápida’ constituídas por técnicos de saúde com diversas valências dedicadas a apoiar as situações críticas observadas nos lares.

De acordo com o anúncio efectuado no início de Setembro, as referidas brigadas contariam com 400 profissionais, seriam distribuídas pelos 18 distritos do continente e entrariam em funcionamento no mês de Outubro. No entanto, ainda em Setembro, o Governo veio admitir dificuldades em completar as equipas previstas, ficando aquém do número inicialmente previsto.

De acordo com as informações mais recentes, os surtos em lares são actualmente superiores a 50, cerca de 80% dos óbitos por Covid-19 concentram-se entre pessoas com mais de 80 anos de idade e o número de mortes neste escalão etário aumentou 30% na última semana.

Entretanto, as notícias de novos surtos em lares são diárias e o número de novos casos em cada novo surto é na ordem das dezenas.

A evolução da pandemia é preocupante, mas é crítica nas estruturas residenciais de idosos, em que se agrava diariamente, atingindo especialmente os mais vulneráveis, mas também muitos profissionais que lhes prestam assistência.

As medidas tomadas e os procedimentos anunciados são insuficientes para garantir a segurança devida aos idosos institucionalizados. O Estado está a falhar e a sociedade não pode ficar indiferente a este drama.

Não é tempo para apontar culpados, mas para salvar os mais velhos da antecipação do seu final de vida.

Se as brigadas são insuficientes ou desadequadas, então importa reforçá-las ou alterar o modelo. Se a testagem é demorada e insuficiente, então urge testar mais e mais rapidamente. Se o acompanhamento médico é inexistente em muitos lares, então altere-se a condição de apoio nos cuidados de saúde. Se o contágio acontece pelos profissionais que entram e saem, então criem-se rotinas de permanência ou proceda-se à testagem intensiva destes. Se as instalações não permitem o distanciamento físico e as condições adequadas, então criem-se alternativas de alojamento.

Mas reaja-se já! Seria irónico, se não fosse trágico, que a solução que os mais velhos procuram para viver melhor o seu final da vida possa ser a antecipação da sua morte. Em cada dia que passa morrem idosos por falta do cuidado adequado. Em cada dia que se atrasa a reacção conduzimos mais idosos para a Covid-19 e para a morte provável.