Octávio Ribeiro: ‘Tenho uma garrafa de champanhe à espera da liderança’

Director do Correio da Manhã desde 2007, Octávio Ribeiro lidera também a Correio da Manhã TV, no ar a partir de domingo. Cresceu no Barreiro, onde fez ginástica desportiva e sonhou com o futebol, mas uma lesão pôs-lhe fim à carreira. Descobriu a poesia e a música através da banda industrial Rococó, onde ‘tocava’ máquina…

qual será a primeira imagem da correio da manhã tv (cmtv), no dia 17?

a emissão arranca às 10h da manhã com o nuno graciano de helicóptero a sobrevoar lisboa. depois vamos para fátima, para a missa ao ar livre no santuário. tenho uma fé católica enraizada, mas nem sequer pratico. é uma missa para abençoar o arranque. depois temos a gala do viva a vida, em viseu. vamos estar seis horas em directo de viseu.

em 2010 disse que só por razões políticas quase inaceitáveis é que a cofina ainda não tinha um canal de televisão. o que mudou?

o quinto canal teria a intervenção da cofina, muito provavelmente o controlo. mas há um condicionamento industrial em portugal que me lembra o condicionamento no estado novo. os grupos instalados no mercado de televisão fazem tudo o que for preciso para que não entre mais ninguém. isso não faz sentido nem serve o consumidor.

defende a privatização da rtp?

defendo publicamente, desde o morais sarmento, que só deve haver um canal público de excelência e sem publicidade. e deve haver a rtp internacional e a rtp áfrica. aliás, esta última, quanto a mim, até devia estar sob a tutela dos negócios estrangeiros. não faz sentido ter o estado no cabo, a gastar milhões e a distorcer a concorrência. na privatização da rtp, em termos de correio da manhã (cm), tivemos uma maior atenção sobre os números desse elefante branco do regime.

quanto tempo acredita necessitar para atingir a liderança?

o desígnio definido com a equipa e a administração são os três anos. conto ultrapassar mais cedo. mas para isso é preciso não haver nenhuma alteração das condições que tenho hoje.

o que é que a cmtv vai acrescentar em relação aos concorrentes?

a cmtv vai ser um canal 100% nacional, sem produtos estrangeiros. será 100% falado em português de portugal e terá notícias em directo de hora a hora. teremos um olhar muito menos de agenda pré-fabricada e um culto pela matriz da marca cm: a proximidade com as pessoas, o pulsar do país, a coragem na investigação… e teremos entretenimento.

e ficção?

para já, não. novelas nunca apostaremos, mas podemos ter um reality show.

e mulheres nuas?

não, mas não vou fugir à elegância e beleza de um corpo feminino. vamos ter um programa que emana da pose, do vidas, e se chama anatomia da pose. ainda assim vai ter menos nudez do que qualquer novela brasileira.

o que propõe para o prime time?

começamos o jornal às 20 horas e eu escolherei qual o generalista que vamos perseguir. depois, quando o generalista for para a novela, mudamos a ambiência de estúdio para combater o cabo. o cm jornal terá três horas, mas com uma mudança de ambiência a meio. se eles têm notícias, eu tenho mais. tenho a certeza que os meus noticiários vão ser melhores.

quando em todo o mundo se discute a tendência de encurtar os espaços informativos vai fazer o oposto?

quem diz isso? o custo-hora em televisão é altíssimo. se reduzissem os noticiários tinham de despedir pessoas. só temos 72, entre câmaras e jornalistas, que se juntam a uma equipa de 130 jornalistas.

qual será o seu papel na antena?

vou fazer algumas grandes entrevistas e poderei ser chamado a comentar em casos de relevância nacional.

sempre se demonstrou contra as sinergias nos grandes grupos de comunicação. mas agora, a propósito da cmtv, diz o oposto.

são coisas diferentes. nas plataformas em papel é fundamental preservar a identidade das marcas. mas na televisão vamos activar essas marcas com a sua identidade num ecrã comum. por exemplo, o record tem duas horas por dia em que a marca record é activada no ecrã da cmtv.

houve despedimentos no grupo antes do arranque da cmtv?

como fundi um sector de secretaria de redacção e agenda com produção, três pessoas foram convidadas a negociar a saída. essas decisões são sempre muito ponderadas. o cm é o garante de bem-estar para perto de 300 pessoas e indirectamente é o garante de bem-estar para quase oito mil bancas no país. temos 53% de quota de mercado dos diários. se o cm acabasse não havia bancas em portugal.

raquel.carrilho@sol.pt e vitor.rainho@sol.pt