China quer testar nove milhões de pessoas em cinco dias

A operação massiva em Qingdao foi despoletada por uns meros 12 casos de covid-19. A cidade recebera mais de quatro milhões de turistas na semana anterior.

Numa demonstração de capacidade médica sem paralelo, o Governo chinês planeia testar nove milhões de pessoas, a população inteira de Qingdao, na província de Shandong, em apenas cinco dias, após detetar uns meros 12 casos de covid-19, ligados a um hospital que trata pacientes com coronavírus chegados do estrangeiro, segundo o jornal estatal Global Times. Ainda há uns meses foram testados os 11 milhões de habitantes de Wuhan, o epicentro inicial da pandemia, que desde então regressou à normalidade, até com concertos gigantescos, enquanto boa parte do resto do mundo vai saindo e entrando de confinamento. 

Desde o seu pico de contágios centrado em Wuhan, em fevereiro, a China estabilizou nos 85 mil casos registados e pouco mais de 4600 mortes, passando do país mais infetado para o 49º. Apesar do ceticismo com que se olha para os números do Governo chinês, não há grandes dúvidas de que têm a pandemia sob controlo, muito graças às suas medidas duras e rápidas. Agora, a estratégia parece ser testes em massa para apanhar surtos logo no início. 

O caso de Qingdao, é mais um exemplo disso. Se o modelo de testes for semelhante ao usado em Wuhan, deverão ser criados centros de testagem, postos no terreno milhares de profissionais, criadas equipas para ajudar os idosos e pessoas com deficiências a deslocarem-se. Para poupar recursos, a análise dos testes deverá ser conjunta – ou seja, juntam-se entre 5 a 10 exemplares, faz-se a análise e se houver algum positivo voltam a testar-se os indivíduos. 

Pelo meio, o hospital onde houve o surto de Qingdao foi isolado, com mais de 111 mil pessoas, entre funcionários, pacientes e pessoas próximas já testadas, sem nenhum positivo, esta segunda-feira. As residências dos 12 infetados já foram seladas. 

 

Turismo interno A notícia dos casos em Qingdao não podia ter surgido em pior altura, menos de uma semana depois da cidade receber quase 4,5 milhões de turistas, durante a Semana Dourada Chinesa, um feriado estabelecido para incentivar ao turismo interno. Talvez por isso as autoridades chinesas tenham apostado de imediato em testes em massa, com um prazo tão apertado, antes que houvesse surtos noutras cidades.

Qingdao, uma cidade costeira no leste da China, central no projeto da Nova Rota da Seda, sempre foi vista como um potencial ponto de reintrodução da covid-19, dadas as estreitas relações comerciais com o Sudeste Asiático e a Europa. Há umas semanas, a cidade registou as primeiras infeções sintomáticas na China em mais de um mês. Dois trabalhadores portuários terão estado em contacto com contentores de frutos do mar contaminados, importados do estrangeiro, segundo as autoridades.

Apesar disso, o retorno à normalidade da cidade, até se registarem estes 12 casos, fora praticamente completo. Conhecida pelas praias, enormes arranha-céus e como berço da cerveja Tsingtao, no final de agosto Qingdao até teve o seu tradicional festival da cerveja, uma espécie de Oktoberfest chinês. Claro que todos os visitantes tiveram de passar o seu QR Code à porta do evento – se piscar uma luz vermelha, tiveram em contacto com alguém infetado.

“Não via tantas pessoas juntas à muito tempo”, admirou-se na altura Wang Suping, um dos muitos turistas que viajou para Qingdao, em declarações à ABC. “Os seres humanos são animais sociais. Só podemos ser felizes se estivermos em contacto uns com os outros”.