Rapaz de 17 anos morre por miocardite não diagnosticada a tempo

A mãe exige justiça e pede que os médicos que disgnosticaram mal o filho “sejam responsabilizados” 

João Pedro tinha 16 anos quando começou a sentir-se com “falta de ar, cansaço geral, dor na zona dos rins, respiração ofegante e tosse”. Após estes sintomas, a 15 de novembro de 2019, a família dirigiu-se ao hospital CUF Descobertas onde o rapaz viria a morrer em março deste ano.

No mês passado, Fernanda Carvalho, a mãe, deu entrada com um processo em tribunal contra a CUF Descobertas e os primeiros dois profissionais que atenderam o adolescente e não diagnosticaram a miocardite.

Na primeira visita às urgências pediátricas, João Pedro fez um raio-x ao tórax onde lhe diagnosticaram uma “infeçãozinha respiratória”, conta Fernanda Carvalho ao Notícias ao Minuto.

Perante a persistência dos sintomas, a família voltou ao hospital a 18 de novembro. Nesse dia, o jovem voltou a realizar outro Raio X onde uma médica diferente da que tinha assistido João Pedro anteriormente, detetou uma “leve pneumonia” e o mandou novamente para casa.

A 24 de novembro, os sintomas pioraram e o adolescente começou a vomitar. Dessa vez o cenário foi diferente. O médico que o atendeu percebeu que “algo de muito errado se passava com o coração do João Pedro”. Depois de uns exames complementares feitos por um cardiologista chamado de urgência confirmou-se que o jovem tinha uma miocardite (inflamação no tecido muscular do coração).

Este diagnóstico fez com que João Pedro fosse transferido de urgência para a Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) Pediátrica do Hospital de Santa Maria. Três dias depois, o seu estado clínico agravou-se e o jovem foi novamente transferido, desta vez para a UCI pediátrica do Hospital de Santa Cruz, especializada no tratamento de problemas cardíacos.

Mas não foi suficiente e, mais de 100 dias de internamento e sete operações, o jovem acabou por morrer: “A negligência [dos dois primeiros médicos que o atenderam, na CUF Descobertas] fê-lo ficar internado 102 dias a lutar, a sofrer, a chorar”, considera a mãe.

A 21 de setembro, a família arrancou com um processo no Tribunal Judicial da Comarca e Lisboa contra o hospital CUF Descobertas e os dois médicos que atenderam João Pedro nas suas primeiras visitas às urgências e não diagnosticaram a miocardite.

Antes foi solicitado um parecer clínico independente onde o médico admite “a existência de violação das leges artis medicinae nos dois atendimentos hospitalares prestados à vítima em 16.11.2019 e em 18.11.2019”.

A esta situação o hospital da CUF responde que o jovem tinha “antecedentes de asma brônquica” e que “índice cardiotorácico” não permitiu identificar, nas primeiras idas às urgências, nenhuma “patologia cardíaca, além da pneunomia que apresentava”. A esta justificação, a CUF Descobertas acrescenta ainda que “existem doenças, como é o caso das doenças cardíacas em crianças e jovens, que infelizmente, tendo em conta a sua gravidade, podem ter um desfecho imprevisível”.