Organização Sindical dos Polícias revoltada por Governo não contemplar subsídio de risco

Vice-presidente diz não perceber por que razão os polícias não têm direito ao subsídio que os profissionais de saúde vão receber.

Em inícios de fevereiro deste ano, antes da pandemia do novo coronavírus chegar a Portugal, a Assembleia da República chumbou uma proposta do partido Chega para a atribuição de um subsídio de risco para as forças de segurança, nomeadamente a PSP. Mas, oito meses depois – e com a covid-19 instalada em Portugal –, a situação não se alterou, tendo apenas sido aprovada, para o Orçamento de Estado de 2021, a atribuição de um subsídio de risco aos profissionais de saúde. Ao i, o vice-presidente da Organização Sindical dos Polícias (OSP) da PSP, Jorge Rufino, lamentou o sucedido e mostrou a sua incompreensão perante esta decisão do Governo.

“Está previsto em Orçamento de Estado para o pessoal da saúde a entrega de um subsídio de risco. Mas com a covid-19, nós, os polícias, também andamos sempre na linha da frente. Nesse aspeto, é de lastimar e lamentar que, mais uma vez, a PSP fique de fora. É certo que os médicos e os enfermeiros merecem, mas nós também estamos mais expostos ao risco do que qualquer outra profissão, não querendo menosprezar a situação deles. Estamos, de certa forma, revoltados, porque até era um complemento ao nosso salário que, por si só, é vergonhoso. E o nosso sindicato não vê com bons olhos esta situação”, começou por dizer, sublinhando ser “uma vergonha” o facto de o Governo não reconhecer os polícias como profissão de risco.

“Todos os dias o nosso pessoal é agredido. Não há igual a esta profissão. A Polícia Judiciária, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e a Guarda Prisional têm este subsídio. A PSP e a Guarda Nacional Republicana (GNR) não têm. Mas eu talvez perceba porquê. Os efetivos deles são muito reduzidos. Já na PSP somos uns 20 mil e na GNR são outros 24 ou 25 mil”, atirou Jorge Rufino.

Mencionando ainda o facto de a PSP ter o papel de fiscalizar as pessoas que estão em casa a cumprir o confinamento, o vice-presidente da OSP reforçou que são os polícias que, muitas vezes, têm de lidar com doentes infetados por covid-19.

“Quem está exposto ao risco é quem anda no exterior. No entanto, quem está lá dentro também tem algum risco. Mas o pessoal que anda no terreno é aquele que está mais exposto a todo e qualquer tipo de problema, seja ele de agressões ou doenças contagiosas. Sobretudo com a pandemia, nós é que andamos a fiscalizar nos domicílios. Temos pessoal nosso a fiscalizar se as pessoas que têm de estar confinadas saem de casa ou não. Se forem apanhados fora do domicílio, são detidos. E somos nós que os temos de transportar e levá-los para o tribunal. Mandam-nos para a rua A, B ou C e não sabemos o que vamos encontrar. Estamos revoltados porque, mais uma vez, o Estado está contra os polícias. É uma pura ingratidão por parte do Governo”, rematou.

profissão que já não é “atrativa” Há cerca de um mês, o Sindicato Nacional da Carreira de Chefes da PSP enviou uma carta aberta ao ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, questionando a falta de candidatos ao concurso para formação de agentes da PSP. Nesse mesma carta, como possíveis causas, o sindicato falou em baixos vencimentos e o facto de os polícias serem muitas vezes apelidados de “agressores, xenófobos ou racistas”. E, nesse sentido, Jorge Rufino confessa agora que a não atribuição de um subsídio de risco aos polícias faz com que a profissão seja ainda menos apetecível aos olhos daqueles que querem seguir este rumo.

“É mais uma forma de manterem as forças de segurança, nomeadamente a PSP, moralmente ainda mais em baixo. Ainda agora houve um curso para polícias em que não há concorrentes em número suficiente para preencher as vagas. Isso é revelador de que começa a ser uma profissão que já não é atrativa como há cerca de duas décadas. O ordenado dos polícias está em 789 euros. E isso diz tudo”, avançou.

O i contactou o Ministério da Administração Interna, para esclarecimentos adicionais, bem como a Direção Nacional da PSP, mas não obteve qualquer resposta até à hora de fecho desta edição.

subsídio que vai até 219 euros Os médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde vão ter direito a um subsídio de risco que pode ir até aos 219 euros e que deverá ser pago mensalmente durante o período de contingência da pandemia em que estamos atualmente – ou se o estado de alarme for agravado para estado de calamidade ou de emergência. Este subsídio abrange também profissionais do INEM, que fazem o transporte deste tipo de doentes.