Tâmega e Sousa passa a ser a zona do país com mais casos por 100 mil habitantes

Centro hospitalar alertou ontem os utentes de que o apelo das autoridades de saúde de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira se estende aos restantes concelhos da região. Pede a colaboração da população para adotar comportamentos seguros e só ir às urgências em caso grave. 

Depois do alerta das autoridades locais de saúde à população dos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira para uma situação de “preocupante transmissão comunitária ativa”, o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa lançou também um apelo aos utentes da sua zona de influência, alertando para a situação que se vive não só nestes municípios mas na restante zona do Vale do Sousa e Baixo Tâmega. “Apelamos a todos que nos ajudem no combate à pandemia com comportamentos adequados”, lia-se esta segunda-feira numa nota publicada nas redes sociais, onde o centro hospitalar indica que o comunicado do fim de semana se aplica aos restantes concelhos da região. “O enorme aumento de casos de infeção pela covid-19 na nossa região torna muito difícil o combate sem um esforço coletivo. É fundamental a ajuda de todos e contamos com essa colaboração para vencermos este período difícil da nossa vida coletiva”, continua o centro hospitalar.

Casamentos e batizados desaconselhados

O alerta inicial foi emitido no sábado, dia em que a autoridades locais de saúde do Agrupamento de Centros de Saúde do Tâmega III – Vale do Sousa Norte desaconselharam a população de realizar eventos de qualquer natureza que possam implicar a concentração de pessoas, bem como festas, almoços e jantares de família e celebrações como batizados e casamentos, que a esta altura a nível nacional podem ser realizadas com o limite de 50 pessoas mas parecem estar a ser um dos principais focos de contágio. Davam conta de 944 casos só nos concelhos de Lousada, Paços de Ferreira e Felgueiras nos últimos sete dias, pedindo às pessoas que em caso de sintomas permanecessem em casa e contactassem diretamente os serviços de saúde locais.

Na nota aos utentes, o Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa alerta que, em particular neste período, “só se devem deslocar à urgência do Hospital em casos verdadeiramente graves”, dando ainda conta de que estão a abrir vários pontos na região para se poderem efetuar os testes de rastreio para COVID19, “pelo que o contacto com a linha Saúde 24 e os médicos de família são os acessos adequados antes de se deslocarem para os serviços de urgência”.

Com mais do dobro dos casos de Lisboa

Os dados sobre a evolução dos casos por concelho, atualizados como habitualmente à segunda-feira pela Direção Geral a Saúde, confirmam os números divulgados pelo ACES Tâmega III apenas com diferenças ligeiras. Com 565 novos casos reportados na última semana, Paços de Ferreira passou a surgir atrás de Lisboa e Sintra como o concelho com mais novos diagnósticos de covid-19 na última semana, quando na semana anterior tinha registado apenas 124 casos. Lisboa registou nesta última semana 781 novos casos e Sintra 653. A diferença é que estes concelhos são os mais populosos do país, registando na última semana uma incidência a sete dias de 153 casos por 100 mil habitantes no caso de Lisboa e 167 no caso de Sintra (usando as estimativas de população por concelho do INE para o ano de 2019).

Em Paços de Ferreira, com 56 mil habitantes, o cálculo da incidência dá 996 casos por 100 mil habitantes, sendo o concelho com maior incidência a nível nacional. Analisando os diferentes concelhos do Vale do Sousa e Baixo Tâmega e que pertencem à área de influência do centro hospitalar, percebe-se que nos últimos dias esta zona do país, com cerca de 500 mil habitantes, é a que regista mais novos casos: são 1707 novos casos, o que dá uma incidência de 340 casos por 100 mil habitantes (é mais do dobro de Lisboa, com sensivelmente o mesmo número de habitantes). Acima surgem apenas os concelhos de Alvaiázere e Alcoutim, com muito menos casos e população, não sendo por isso realidades comparáveis.

No Norte, a região do país que tem vindo a registar mais novos casos, Porto e Bragança são os concelhos com maior incidência a par dos que têm mais casos na zona do Vale do Sousa.

Ontem na conferência de imprensa da DGS não foi referida a situação de nenhum ponto do país em especial e o i não teve resposta sobre as questões colocadas sobre o alerta feito pelas autoridades locais no fim de semana, nomeadamente para o facto de haver transmissão comunitária ativa, o que tem sido sinónimo de haver mais casos em que não é possível identificar o link de infeção. A diretora-geral de Saúde sublinhou no entanto que a nível nacional é possível estabelecer essa ligação em 59% dos casos detetados logo nos primeiros inquéritos. A Administração Regional de Saúde do Norte, que o i contactou no sentido de perceber se seriam propostas novas medidas nesta região, esclareceu que o trabalho das autoridades locais de saúde tem incidido no sentido de as pessoas cumprirem as orientações que lhes são transmitidas, nomeadamente no que respeita ao isolamento. “Os profissionais são incansáveis no desempenho das suas funções, mas as populações também terão que cumprir as orientações e conselhos que as autoridades vão transmitindo”, reforçou a Administração Regional de Saúde do Norte.

Autarcas já reuniram

Numa ronda pelas páginas oficiais dos municípios em causa, percebe-se que têm estado a reforçar os alertas à população e a garantia de que estão a ser ativados novos pontos de testagem e linhas de apoio. Mas pelo menos a Câmara Municipal de Lousada já pediu ao Ministério da Saúde para serem reforçadas medidas, mostrando preocupação com dificuldades no seguimento de casos pelo SNS24. “Ao final da tarde, em reunião com a ARS Norte e restantes Presidentes de Câmara da região, foi traçado o diagnóstico epidemiológico da região, havendo evidências no aumento de casos em jovens e da situação crítica em que nos encontramos em termos genéricos. A capacidade de resposta das diversas Unidades de Saúde está a atingir o seu máximo, assim como do próprio Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa”, lia-se numa mensagem do presidente da câmara aos munícipes publicada no domingo no Facebook. “Apresentei os meus argumentos ao Sr. Presidente da ARS Norte, realçando a importância de contermos a atual situação e restringirmos ao máximo as atividades não-essenciais, para que no futuro não seja necessário pararmos todo o país”.

Esta segunda-feira na conferência de imprensa da DGS não foram avançadas novas medidas. Questionado sobre que situação levaria a ser decretado o estado de emergência, o secretário de Estado da Saúde António Lacerda Sales sublinhou a importância de toda a população cumprir nesta fase as recomendações. “O estado de emergência aplica-se quando a ameaça é de grande gravidade ou maior gravidade. Não é nessa fase que estamos”, sublinhou.

No final da reunião com o Presidente da República, a ministra da Saúde apelou ao cumprimento das regras. Marta Temido disse que os dados disponíveis apontam para um agravamento da epidemia, sublinhando que é possível inverter a situação com medidas eficazes e o comportamento de cada um.

No Norte, e nesta zona em particular, o agravamento da situação epidemiológica tem sido notório e supera já os números da primeira onda da epidemia, embora em termos de ocupação hospitalar em enfermaria e cuidados intensivos exista ainda capacidade a nível regional. Prevê-se no entanto um aumento da pressão daqui para a frente. No último cálculo do INSA, divulgado na sexta-feira, o Norte tinha um RT de 1,36, o mais elevado desde o final de março. Na altura não se registavam no entanto uma média de mil casos diários na região, o que a esta altura potencia o risco de propagação do vírus. A nível nacional o RT foi calculado em 1,27, sendo de 1,33 na região Centro, 1,16 na região Lisboa e Vale do Tejo, 1,18 na região Alentejo e 0,99 na região Algarve.