Crianças eram as mais afetadas pela pobreza antes da pandemia

Estima-se que serão precisas cinco gerações para os descendentes de uma família de baixos rendimentos em Portugal alcançarem o nível de rendimento médio.

Portugal é um dos países com maior desigualdade de rendimentos na União Europeia e da OCDE, o que se reflete também nos níveis de pobreza do país, especialmente no grupo etário das crianças. Segundo dados do Eurostat de 2019, estima-se que 22,3% das crianças vivam em situação de pobreza, representando também o grupo com a maior taxa de risco de pobreza (21,6%), segundo dados da Pordata referentes ao ano anterior.

“A actual crise da COVID-19 continuará a ter um impacto desproporcionado nas crianças, mulheres e raparigas, ameaçando inverter os ganhos duramente conquistados na luta pela igualdade de género. As medidas de protecção social têm um papel crucial a desempenhar na mitigação dos mecanismos de sobrevivência dos pobres e dos mais vulneráveis. Combater as desigualdades é um investimento crucial para as crianças e também para quebrar o ciclo intergeracional de pobreza e exclusão social”, afirma Beatriz Imperatori, diretora executiva da UNICEF Portugal, em comunicado.

Por cá, estima-se que, para os descendentes de uma família de baixos rendimentos alcançarem o nível de rendimento médio, serão precisas cinco gerações, segundo informações da OCDE referentes a 2018.

A nível mundial, apesar de as crianças serem apenas um terço da população global, cerca de metade das pessoas que vivem em situação de pobreza extrema são crianças.

Segundo o relatório “Global Estimate of Children in Monetary Poverty: An Update”, do Grupo do Banco Mundial e da UNICEF, divulgado esta terça-feira, a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, estima-se que 1 em cada 6 crianças, ou seja 356 milhões de crianças pelo mundo, viviam em extrema pobreza antes da pandemia, situação que se deverá agravar nos próximos tempos: estas entidades “alertam para um progresso preocupantemente lento, desigualmente distribuído, e em risco devido ao impacto económico da pandemia COVID-19”.

O relatório mostra ainda que a África subsaariana representa dois terços das crianças que lutam para sobreviver com uma média de 1,61€ euro por dia, valor que representa a medida internacional para a pobreza extrema.

"Estes números só por si devem chocar qualquer um. E a escala e a profundidade daquilo que sabemos sobre as dificuldades financeiras provocadas pela pandemia apenas servem para piorar ainda mais a situação. Os governos precisam urgentemente de um plano de recuperação para as crianças para evitar que um número inestimável de crianças e das suas famílias atinja níveis de pobreza nunca vistos durante muitos, muitos anos", disse Sanjay Wijesekera, diretor de programas da UNICEF.

Em comunicado, a UNICEF Portugal “apela a uma abordagem à pobreza baseada nos direitos da criança que promova uma alteração de paradigma e análise das suas causas e factores. Consequentemente, recomenda a adopção de uma resposta integrada que inclua, entre outras: medidas destinadas a aumentar o rendimento das famílias, o acesso a serviços sociais, a educação e saúde de qualidade desde os primeiros anos de vida, intervenção precoce, transportes e mobilidade, e melhoria das condições de habitabilidade”.