Índia: um país, dois sentidos

Na Índia nada é óbvio. Por várias razões. Primeiro, há que mudar o nosso mind set ocidental para uma cultura ancestral que soube incorporar, e não excluir, os valores e referências das nações que por lá passaram – a diversidade convive, por exemplo, em quinze línguas diferentes.

segundo, porque a diferente relação que os indianos têm com o tempo não significa imobilismo. é um país dinâmico e uma economia pujante, fazendo inveja às economias ocidentais, mesmo considerando um conjunto de debilidades estruturais – pelo que nos faz pensar que, sem contar com as assimetrias no rendimento per capita, teremos uma economia ‘dominante’ a médio prazo.

terceiro, a relação histórica com algumas zonas da índia comove-nos pela capacidade de construir, à época, monumentos, e referências culturais tão fortes e perenes.

tanto aqui, como em s. tomé ou no brasil. um espanhol, por exemplo, nunca poderá sentir esta dimensão global.

quarto, é, precisamente, a questão global que deve merecer a especial atenção dos empresários.

a índia será um país em desenvolvimento, em mutação rápida, com graves problemas de ordem social (não esqueceremos facilmente o caso, infelizmente, simbólico da violação que chocou o mundo), mas é um país intelectualmente moderno.

aqui, a educação universitária, é encarada de uma forma competitiva ao mais alto nível. não é o grau académico que conta, mas sim o desempenho de excelência. e excelência significa vinte valores, significa competir com as melhores universidades ocidentais.

porém, esta leitura, não é uma leitura fechada; aqui abre-se uma janela de intercâmbio entre os nossos países, que pode, muito bem, ser a forma de penetrar neste mercado com alta qualificação e um conhecimento profundo comportamental e social dos indianos. ora, isto só será eficaz se acontecer nos dois sentidos. programas de intercâmbio e desenvolvimento empresarial podem e devem ser um dos modelos para construir uma abordagem consistente aos mercados. todavia, estamos perante um país muito estratificado: socialmente, economicamente e na decisão política.

por outro lado, portugal deve olhar para a índia como um mercado cinco vezes maior do que o brasil, é certo, mas também com as dificuldades que isso representa. do ponto de vista geográfico, actividades que exijam uma rede de distribuição podem encontrar grandes obstáculos, pelo que a focalização em determinados estados é essencial. acresce que os padrões de consumo são díspares, em ‘formação’ e com valores médios de consumo diário muito baixos – embora a tendência seja para um aumento do consumo; à escala portuguesa, pode representar um aumento do nosso volume de negócios excepcional e exponencial.

as grandes empresas indianas têm em prática (ainda?) uma estratégia de diversificação. o que significa duas coisas: primeiro, uma única empresa local pode desbloquear várias empresas nacionais tendo apenas um interlocutor de base. segundo, o capital indiano tende, e tenderá cada vez mais, a procurar outras paragens.

ou seja, a índia pode tornar-se um parceiro para as empresas portuguesas, quer no funding, quer aproveitando portugal como porta de entrada para a europa e para o brasil, angola e moçambique. a empresa que aqui representei assinou um ‘memorando de entendimento’ que reforça convictamente esta ideia, de forma inovadora, no sector dos audiovisuais e do cinema.

porquê portugal? porque os indianos valorizam a relação de confiança e a maneira de estar dos portugueses. a índia não é um país para arrivismo, é um país de futuro; como outrora, de chegada e de partidas mútuas.

* ceo da cine pictures studios, sa