Portugal entra no patamar de risco mais elevado

O Governo anunciou que no último fim de semana de outubro será restrita a circulação entre concelhos. Maior demora nos inquéritos pode dificultar contenção de cadeias de transmissão. Projeções ajudam a perceber o que esperar na próxima semana.

O Governo anunciou que no último fim de semana de outubro será restrita a circulação entre concelhos. Maior demora nos inquéritos pode dificultar contenção de cadeias de transmissão. Projeções ajudam a perceber o que esperar na próxima semana.

Depois do recorde de mais de 3 mil casos num dia, as projeções continuam a apontar para um aumento das infeções e dos casos reportados diariamente e maior pressão nos hospitais. O patamar dos 4 mil casos poderá ser ultrapassado nos próximos dias, mas a expectativa é que, com as oscilações semanais, se atinja uma média de 3500 casos diários na próxima semana, com menos casos reportados nos primeiros dias da semana. Esta quinta-feira o Governo anunciou que será restrita a circulação entre concelhos no último fim de semana do mês, apertando desde já as restrições nos concelhos de Felgueiras, Lousada e Paços de Ferreira. Depois de na semana passada o país ter passado ao estado de calamidade, com novos limites a ajuntamentos, a preocupação entre os peritos ouvidos pelo i mantém-se, uma vez que ainda não há sinais sustentados de alteração da trajetória de aumento exponencial de casos e, com a subida de casos diários, a pressão sobre os hospitais continuará também a subir. Por outro lado, apurou o i, tem havido dificuldades na realização de inquéritos epidemiológicos, com centenas de inquéritos pendentes, o que pode demorar a quebra de cadeias de transmissão.

Como na primeira vaga de infeções de covid-19, o Norte tem agora o maior número de casos. Se o país entrou esta semana no lote de países europeus no patamar de maior risco, acima dos 240 casos por 100 mil habitantes no espaço de 14 dias (ontem atingiu 262,3), a região Norte é a única no país que passou essa linha vermelha e não a 14 dias, mas nos últimos sete (com uma incidência de 254,1 casos por 100 mil habitantes). A 14 dias regista uma incidência de 413,7 novos casos por 100 mil habitantes.

De acordo com o boletim da Direção Geral da Saúde, que o i analisou, nos últimos sete dias a região Norte registou 9068 novos casos, quase o dobro dos 4874 casos reportados em Lisboa. Há uma semana, Óscar Felgueiras, matemático especialista em epidemiologia da Universidade do Porto, classificou de explosivo o aumento de casos na região e admitiu ao SOL que a região deveria passar os 2000 casos esta semana, os valores esperados nos próximos dias. Na próxima semana deverão ser superiores. Carlos Antunes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, concorda com a estimativa, admitindo no entanto que na região Norte parece haver agora os primeiros sinais de estabilização do RT, o que não acontece em mais nenhuma zona do país. Antunes assinala que isso não significa que os casos não continuem a aumentar, mas se começar a haver uma convergência do RT com 1, começa a ser possível definir um pico de casos e um abrandamento da subida pelo menos na região mais afetada e também onde o RT está acima de 1 há mais tempo. Aponta nesse sentido para a primeira semana de novembro se verifique o pico de casos a Norte.

Cuidados intensivos com maior pressão

Analisando os últimos sete dias, além do aumento de casos, houve uma aceleração no aumento dos internamentos, quer em enfermaria, quer em cuidados intensivos.

Ontem foi superado o máximo de internamentos registado em abril (1302) e atingiu-se o patamar de 200 doentes internados em cuidados intensivos. A situação é um pouco precoce face ao que era expectável e verificou-se uma aceleração do aumento de doentes internados e em enfermaria face à semana anterior. Nos últimos sete dias, os internamentos em UCI aumentaram 43%, quando na semana anterior a subida tinha sido de 20%. Mantendo-se esta dinâmica, sem agravamento ou melhoria, o número de doentes internados em UCI poderia chegar aos 286 nos próximos sete dias, superando também o pico de abril. Atualmente, reiterou a ministra da Saúde, há 787 camas de cuidados intensivos no país para todos os casos e um quinto estão assim ocupadas com doentes com covid-19. A capacidade é extensível e até ao final do ano estão previstas mais 123 camas.

Hospitais podem contratar camas com privados

Marta Temido adiantou que já estão disponíveis os articulados contratuais para os hospitais poderem contratar camas ao setor privado e social, o que já está a acontecer na região Norte. A ministra da Saúde admitiu também que, em caso de necessidade, existe a figura de requisição dos outros setores.

Questionadas sobre críticas à falta de preparação para esta fase da pandemia, a ministra do Estado e da Presidência e a ministra da Saúde sublinharam o trabalho feito nos últimos meses, que incluiu o reforço da linha SNS24 e da capacidade de testagem no país e também de equipamentos como ventiladores. “O país tem-se preparado, o Governo e o Ministério da Saúde têm feito o seu papel, precisamos todos de nos ajudar”, disse Marta Temido.