Nobre quer PR contra medidas sanitárias abusivas e Otelo apoia Marcelo

Otelo Saraiva de Carvalho foi candidato às primeiras eleições presidenciais pós-25 de Abril, em 1976. Passados 35 anos, Fernando Nobre concorria às oitavas eleições presidenciais. A três meses da próxima ida às urnas para escolha do chefe de Estado, os ex-candidatos contam ao SOL as suas perspetivas para o próximo mandato.

Fernando La Vieter Nobre e Otelo Saraiva de Carvalho estão convictos de que Marcelo Rebelo de Sousa irá ganhar as presidenciais do próximo ano, acreditando que já não deixará de se recandidatar ao cargo.

O capitão de Abril acredita que Marcelo irá conseguir facilmente o segundo mandato e mostra-se muito satisfeito com o trabalho realizado pelo atual Presidente, elogiando a «aproximação ao sentimento popular e ao carinho que demonstra sempre em relação às manifestações de capacidade do povo português».

Já Fernando Nobre, apesar de reconhecer que Marcelo até ao momento não tem adversários «à altura para ganhar», diverge da opinião do general, no que toca à campanha eleitoral: o Presidente da Assistência Médica Internacional acredita que as campanhas devem correr «normalmente, em contacto direto com as populações», enquanto Otelo Saraiva defende que é «impossível acontecer como seria feito normalmente».

Para Otelo, «os candidatos terão muita dificuldade em conseguir fazer campanha nestes tempos de pandemia», pois na sua experiência foi «extremamente importante ter contacto com as massas: o contacto direto; o discurso e o entusiasmo no discurso; as promessas e ideias; os comícios; haver diálogo com a massa popular é importantíssimo e com tempos de covid não é possível».

Fernando Nobre, em contrapartida, acredita que o Executivo está a tomar «decisões sanitárias desproporcionadas» e que «o pior está seguramente para vir e nada tem a ver com a dita pandemia em si, mas com as medidas sanitárias tomadas, manifestamente exageradas, que têm consequências dramáticas em termos sociais, económicos, laborais culturais e democráticos».

 O cirurgião avisa que «o próximo Presidente deverá impedir medidas sanitárias abusivas, ouvindo os especialistas, médicos e outros, livres de conflitos de interesse e de pavor paralisador» e acrescenta que terá o dever de «zelar pelo respeito absoluto e integral da nossa Constituição democrática».

Ambos os ex-candidatos mostram uma grande preocupação com o futuro da economia do país e com o bem-estar dos portugueses e querem que isso seja um tema central dos debates destas presidenciais.

Otelo considera que é «importante falar do apoio às empresas portuguesas» e «garantir que funcionam e que mantêm o bem-estar e produtividade dos trabalhadores».

O capitão de Abril considera que «o aumento da produtividade e do PIB que as empresas possam produzir, o aumento dos empreendimentos feito pelo Estado, o apoio para os trabalhadores e o bem-estar social, é um todo conjugado que tem de ser um objetivo». E reforça que «é esse um dos objetivos de Abril e uma preocupação que Marcelo parece ter desde sempre».

Já o presidente da AMI mostra-se igualmente preocupado com «a crise económica grave e com os tremendos impactos laborais, sociais, culturais, cívicos e éticos» e crê que o próximo mandato exigirá a Marcelo uma postura diferente no que toca ao «respeito da Constituição, sobretudo no que concerne às Liberdades, Direitos e Garantias dos cidadãos».

Fernando Nobre afirma ainda que «apenas com uma medida curativa: parar com certas decisões sanitárias desproporcionadas ou tomando, na falta disso, medidas paliativas: mais fundos para apoio alimentar e mais equipas médicas que permitam os centros médicos e os hospitais trabalharem em plenitude e recuperarem o atraso, já muito gravoso, nas consultas, nos exames médicos e nas operações» é que se pode impedir que a pobreza, a fome e a falta de cuidados médicos não sejam problemas ainda maiores.

 

As presidenciais de 76

Otelo Saraiva recorda as presidenciais de 76, nas quais defrontou Ramalho Eanes, dizendo que já na altura «estava convencido de que não ia vencer. Só queria saber qual era a percentagem numa luta que sabia que ia perder garantidamente», mas que «a difusão das nossas ideias e batermo-nos por elas vale sempre a pena».

O general afirma ter tido «um resultado extremamente positivo com os meios que tinha, que eram zero, a não ser o grande entusiasmo popular e metade da massa eleitoral do PCP, votantes de um partido que é extremamente controlador, que controla os seus militantes e que tem uma grande difusão de atividade propagandística e que apesar disso votou em mim».

Para Otelo, «aquilo que o 25 de Abril abriu não está posto em causa pela Pandemia» porque os «ideais de Abril não morrem, esses resistem enquanto não acontecer uma crise política em Portugal», comentando ainda que lhe parece «que a extrema-direita está a ser contida» e que «tem sido combatida com eficácia por vários jornalistas de vários órgãos de comunicação social», não lhe parecendo «que seja ameaça, dada essa luta séria que se tem desenvolvido por parte dos democratas em relação às perspetivas neofascistas». Contudo, Otelo Saraiva de Carvalho apela a que «o poder instituído não resvale, porque, com entusiasmo, e obtendo mais aderentes que estejam encapotados, estes grupos podem variar para posições de um fascismo contundente que mereça, em termos constitucionais, ser fortemente reprimido».

Ainda sobre as campanhas eleitorais, Otelo considera que «a comunicação social irá ter um papel importantíssimo». «Não haverá grandes comícios onde as pessoas poderão estar a ouvir o seu candidato» e «é preciso todos os candidatos serem ouvidos e o único recurso para uma maior aproximação às massas é a comunicação social: os rádios nacionais e regionais; a imprensa escrita nacional e regional; a televisão», apesar de ter a certeza que o próximo Presidente será «Marcelo Rebelo de Sousa, desde que se candidate».

 

O ‘candidato’ à procura de voluntários

Além de ex-candidatos a eleições presidenciais (e destes só Otelo Saraiva de Carvalho e Fernando  Nobre ousaram falar), o SOL conversou também com Manuel João Vieira – o eterno putativo candidato que um dia foi de burro tentar formalizar a candidatura a Belém no Palácio Raton, mas nunca conseguiu reunir as assinaturas necessárias. Anda à procura de alguém que as consiga recolher.