Espanha e Itália temem o regresso do pesadelo

Espanha e Itália, em tempos o epicentro da pandemia de covid-19 na Europa, apertaram restrições face à segunda vaga.

Recolher obrigatório das 11 da noite até às seis da manhã, proibição de reunião com mais de seis pessoas, possibilidade de fecho de fronteiras das regiões mais afetadas: o estado de emergência, com restrições à escala nacional, volta em força a Espanha, decretou este domingo o Governo de Pedro Sánchez, depois de meses a tentar conter a pandemia com medidas locais, nas grandes cidades e arredores, em Madrid e Barcelona. As medidas estarão em vigor pelo menos 15 dias, mas teme-se que possam ser necessárias durante meses, talvez até maio.

“A situação por que estamos a passar é extrema”, avisou o primeiro-ministro espanhol, perante as câmaras, este domingo. “É a mais séria do último meio século”, assegurou. Dias antes, Espanha tornou-se o primeiro país europeu a ultrapassar a marca do milhão de casos registados de covid-19, com mais de 10 mil casos registados no domingo – rapidamente, a marca foi passada por França também.

Na altura do anúncio do estado de emergência, já mais de metade dos executivos das comunidades autónomas pediam ao Governo espanhol que declarasse de novo o estado de emergência. Agora, a dureza das medidas ficará a seu cargo, podendo até as autoridades locais decidir fechar fronteiras com as regiões em seu redor se a situação se agravar.

A situação epidemiológica parece estar pior até que em março, quando Madrid foi obrigada a usar o Palácio do Gelo como morgue improvisada. Nesse mês, o número máximo diário de contágios registado foi pouco mais de 10 mil; na quinta-feira, foram quase 23 mil. Ainda assim, uma das grandes preocupações do Governo espanhol é não forçar a paralisação económica do país.

Contudo, não é só Espanha que teme o regresso do pesadelo. Itália, em tempos o epicentro da pandemia de covid-19 na Europa, enfrenta uma segunda ronda da pandemia e já aumentou as restrições. Desde esta segunda-feira até 24 de novembro, os restaurantes e bares italianos vão passar a fechar às 18h, os ginásios, cinemas e piscinas públicas vão encerrar e 75% dos estudantes com mais de 14 anos passarão a ter aulas online. Também será obrigatório o uso constante de máscara, inclusivamente ao ar livre,

Durante meses, após o pior, com os casos a aumentar por toda a Europa, a Itália foi uma exceção, com a pandemia relativamente sob controlo. Contudo, nos últimos dias houve um aumento exponencial de infeções – em 24 de setembro houve menos de 1800 novos casos registados, este sábado foram mais de 19 mil. “Sofreremos um pouco este mês, mas estamos a cerrar os dentes com estas restrições e seremos capazes de respirar de novo em dezembro”, declarou o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte.

Em março, o mundo assistiu com horror às imagens de enterros em massa em Bérgamo, na Lombardia, que teve quase cinco mil casos no sábado. Agora, o epicentro do surto italiano é Milão, a poucas dezenas de quilómetros de distância. “Temos medo que o pesadelo regresse”, disse Luca Remondini, dono de um bar em Bérgamo, a um repórter do Observer. “As coisas estão calmas neste momento, mas estamos tão próximos de Milão, e regiões próximas como o Piemonte e a Ligúria não estão em grande forma também”.