Antes e depois (as perigosas comparações)

Acerca de publicações e documentários que temos visto nos últimos tempos importa, na minha modestíssima opinião, ter coragem para fazer algumas observações imparciais, pois só o juízo objectivo conduz à verdade.

por João Manuel Garrido 

O Estado Novo e as suas múltiplas falências são uma recordação do passado. Contudo, não podemos (nem devemos) assentar os nossos juízos de valor numa mera observação comparativa de realidades que não são, de todo, comparáveis.

Os tempos eram muito diferentes daqueles em que hoje vivemos, os recursos eram diferentes e os alicerces em que assentava o Estado não recebiam qualquer apoio da Europa. Hoje isso acontece. Não fosse o apoio que recebemos da União Europeia e há muito teríamos deixado de existir, falando em termos institucionais. Exagero? Não creio. Dependemos das esmolas que recebemos para fingirmos que "somos gente", mergulhados que estamos num oceano de inutilidades bem pagas que em nada contribuem para a produção neste País.

O PIB era incomparávelmente mais baixo antes de 1974? Decerto que sim, mas hoje as dívidas são imcomparávelmete mais altas. A mortalidade infantil enorme? Lamentávelmente sim, mas continua a haver crianças em Portugal (um País minúsculo, integrado numa Europa super colaborante) cujos pais não têm meios de lhes pôr o leite na mesa em pleno século XXI. Agora há mais médicos? Aparentemente não chegam, pois todos os dias ouvimos queixas dos utentes acerca da falta de profissionais e meios (refiro-me ao período anterior à pandemia). Analfabetos eram muitos? Sim, se falarmos dos que não sabiam ler e escrever. Mas agora temos dos outros (e não são poucos), os que sabem ler e escrever e continuam a ser "analfabetos" e, portanto, facilmente "manobráveis". Mais licenciados? Perfeito, mas isso não nos retira da questão essencial de saber para que servem tantos licenciados que depois vagueiam no desemprego, alguns "a servir copos" pois outra oportunidade não lhes foi dada. A Segurança Social? Ainda bem que existe mas, como sabemos, está à beira da falência e só não acabou ainda porque a União Europeia, que nos monitoriza, não deixa que tal aconteça, tão grande seria o embaraço. Por fim…

Votamos livremente, o que é fantástico! Sim, o acto em si é livre, mas todos (pelo menos a maioria, espero) têm a noção de que as eleições servem para eleger representantes que, em boa parte dos casos, apenas representam os seus próprios interesses e não os daqueles que neles votam, esperançados. A falsa democracia de fachada que nos encanta como a cobra hipnotiza a sua presa, eis o que é a nossa realidade, que põe os mais obtusos aos pulinhos de contentes porque julgam que controlam as vidinhas.

Tudo isto para dizer o quê? Tinhamos a obrigação de ser um País muito melhor ao fim de 47 anos de democracia, pelo que as comparações correm o risco de nos confrontar com uma realidade que não é assim tão… espectacular, para dizer o mínimo.

Será bom que tenhamos a noção disso.