A praga burguesa!

O aburguesamento dos hábitos sociais que se vive na Europa é uma praga que afeta a Igreja de uma ou de outra maneira. Somos uns burgueses tão grandes, até na forma como vivemos a fé. Queremos adaptar tudo à nossa forma de viver. Queremos até que o evangelho se mude para legitimar a nossa forma…

Mas a tentação de mudarmos o evangelho conforme à interpretação de cada um, não é uma coisa do nosso mundo moderno. Sobre a necessidade de se manter fiel ao evangelho de Cristo já São Paulo o dizia, na carta aos Gálatas: «Ainda que nós ou mesmo um anjo dos céus vos anuncie um evangelho diferente do que já vos pregamos, seja considerado anátema!» (Gal 1, 8).

O Papa Francisco tantas vezes tem alertado para o perigo de uma Igreja autorreferencial, centrada em si mesma. Tantas vezes que nos tem alertado para a necessidade de sair de si mesma e ir ao encontro dos outros. O Papa São João Paulo II tantas vezes falou na necessidade de se iniciar uma Nova Evangelização, para que se faça eco no coração dos homens a boa notícia de que Deus veio salvar o homem das trevas do pecado.

Na realidade, a missão da Igreja é essa: anunciar o nome de Cristo e revelar aos homens a vontade de Deus acerca do homem. Também São Paulo lembra os cristãos de Corinto: «Nós não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, como Senhor» (2 Cor 4, 5).

É esta a missão da Igreja, pregar Cristo como o Senhor, aquele que tem o poder de vencer as trevas interiores de cada um de nós, de cada homem e mulher de todos os tempos. Não fomos eleitos para pregar as nossas próprias ideias, mas para pregar o plano de Deus sobre nós.

As preocupações e as ações da Igreja na Europa têm-se tornado, à imagem da própria sociedade, mais do que burguesas. Se Karl Marx vivesse hoje não escreveria O Capital da forma como o escreveu há mais de cem anos. Hoje vivemos como burgueses, votados aos nossos apetites e às nossas vontades, apenas com uma diferença de há uns anos atrás: vestimos uma capa de amantes dos pobres. Na realidade, a Igreja na Europa está votada a morrer, como morreu a Igreja no norte de África.

Há uma página na internet que me ajuda sempre a sair do meu autorreferenciamento eclesial: a página da organização Ajuda à Igreja que Sofre. Ali aparecem as notícias de como se encontram os cristãos em todo o mundo. Como é que os nossos irmãos na fé se encontram.

As notícias desta semana sobre a Igreja são aterradoras! Abri o site para saber como está a Igreja no mundo e a primeira coisa que vejo deixou-me perplexo: uma igreja em chamas. Sim! Uma igreja que ardia! O povo a festejar! Sabem o que festejava o povo? A revolta social! É verdade! Mas este não é um caso isolado. No último ano, em Santiago do Chile foram vandalizadas mais cinco igrejas.

Vejo também na mesma página que no Paquistão uma rapariga cristã, de 13 anos, foi raptada e obrigada a converter-se ao Islão e a casar-se. Pois é! Estava a brincar ao lado da casa dos seus pais quando foi levada.

Na Venezuela um padre Dehoniano, lusodescendente foi brutalmente assassinado por um grupo de assaltantes. Este padre era mais novo do que eu seis anos – tinha 39 anos! Tinha uma vida pela frente. O bispo da diocese deste padre disse que a Venezuela entrou numa fase de fome e que as coisas estão cada vez mais descontroladas no país.

É esta a situação da nossa Igreja pelo mundo fora. É assim que vivem os cristãos por todo o mundo, cheios de medo. Não sabem quando vai ser a vez de verem as suas igrejas reduzidas a cinzas ou a sua vez de morrer ou de ser raptado. Nós por cá não temos notícias de nada disto que se passa, porquê? Porque as nossas preocupações são as preocupações dos cristãos burgueses!