A pandemia, a responsabilidade coletiva e a ciência

por Isabel Babo Reitora da Universidade Lusófona do Porto Numa valiosa entrevista ao jornal i, no passado dia 12 de outubro, Filipe Froes (pneumologista) declarou «já não tenho tolerância para os ‘negacionistas’ que com a sua ignorância irresponsável põem em risco a vida de terceiros e contribuem para uma maior degradação social e económica». A…

por Isabel Babo
Reitora da Universidade Lusófona do Porto

Numa valiosa entrevista ao jornal i, no passado dia 12 de outubro, Filipe Froes (pneumologista) declarou «já não tenho tolerância para os ‘negacionistas’ que com a sua ignorância irresponsável põem em risco a vida de terceiros e contribuem para uma maior degradação social e económica». A partir desta afirmação, podem extrair-se duas ideias cruciais, entre outras, a responsabilidade e o valor da ciência.

O sociólogo alemão Max Weber distinguiu a ética da convicção da ética da responsabilidade que institui «devemos responder pelas consequências previsíveis dos nossos atos». Trata-se de, em termos morais, assumir e suportar as consequências dos seus atos. Porém, desde a obra O Princípio da Responsabilidade (1979) do filósofo alemão Hans Jonas, que a responsabilidade é estendida da esfera individual (em Kant) à pública, porque é dever coletivo garantir a vida humana e natural na biosfera. O princípio é «age de tal forma que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida autenticamente humana sobre a terra». Nessa medida, as consequências e o tempo da ação alargam-se e a responsabilidade estende-se ao futuro.

Essa dimensão coletiva da responsabilidade, ou o caráter coletivo das nossas ações, deve orientar para, no momento presente da pandemia, agir como potencial transmissor do vírus ou infetante e cumprir as regras de distanciamento físico, uso da máscara, arejamento dos espaços, a par das normas de higienização.

Mas assim como a responsabilidade é essencial, também estamos confrontados com o valor insubstituível da ciência, com a importância do processo de construção da investigação e o princípio da verificabilidade, ou o da refutabilidade, do saber científico. As equipas que desenvolvem investigação sobre o novo vírus vão encontrando respostas à doença, evidenciando-se o valor social da ciência e como a investigação científica requer meios. Hoje sentimos e percebemos isso no quotidiano e no horizonte de expectativas que organiza o nosso futuro (e. g. aguardamos por uma vacina).

Em suma, a responsabilidade coletiva é uma exigência ética. A investigação científica e a formação académica superior são fundamentais. Exorte-se, pois, a maior responsabilidade em vista à contenção da epidemia, a melhores condições de vida no planeta, a mais ciência e a pessoas mais qualificadas. Protejamos os humanos e os não-humanos e algo que está ao nosso alcance, a que não aludi antes, mas como gostaria de encerrar: defendamos as árvores (produzem oxigénio e são filtros naturais).