Covid-19. Novas medidas e hospitais sob pressão

Recolher obrigatório é defendido por autarcas no Norte. Governo admitiu ontem novas medidas ainda esta semana. Privados recusaram doentes covid-19 em Lisboa. No Norte admitem-se novos protocolos em breve.

Perante a escalada de casos no país e em especial no Norte, os apelos ao Governo para serem reforçadas medidas soaram nos últimos dias com maior intensidade. Esta semana o estado de calamidade foi prolongado até à próxima terça-feira, 3 de novembro, e o primeiro-ministro marcou audiências com os partidos para sexta-feira. Convocou um conselho de ministros extraordinário para sábado para definir medidas. Já ontem ao final da tarde, os gabinetes da ministra de Estado e da Presidência e ministra da Saúde informaram que iriam ouvir ao final do dia os peritos habitualmente auscultados nas reuniões do Infarmed e para esta quinta-feira foi marcada uma reunião com médicos especialistas em infecciologia e medicina intensiva. No Norte, vários autarcas defenderam a imposição de um recolher obrigatório para travar festas e deslocações, uma decisão que a ser tomada pelo Executivo deverá implicar um estado de emergência. Entre os peritos que têm sido auscultados pelo Governo nos últimos meses, a hipótese do ensino misto ou à distância, sobretudo nos jovens mais velhos ou universitários, também já foi admitida.

Privados recusam receber doentes covid-19 em Lisboa

A evolução da situação epidemiológica e a previsão de um aumento acentuado de internamentos nas próximas semanas levou a uma sondagem dos hospitais privados por parte das administrações regionais de saúde para perceber a disponibilidade para envio de doentes com covid-19 e outras patologias. Se os doentes com outras patologias continuaram a ser encaminhadas em alguns casos para o privado ao longo dos últimos meses, o envio de doentes covid-19 nunca aconteceu nem foi requisitado nos últimos meses.

Na semana passada, em entrevista do SOL, o presidente do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, que lida neste momento com mais de 150 doentes internados, admitiu que apenas o Hospital Escola da Universidade Fernando Pessoa aceitou receber doentes com covid-19, não tendo havido disponibilidade de outros grupos privados para os quais habitualmente transferem doentes. O i tentou perceber, junto das Administrações Regionais de Saúde, o ponto de situação e quantas tentativas de transferir doentes para o privado foram recusadas. A ARS do Norte confirmou ao i que até ao momento foi apenas celebrado um protocolo com esta unidade de Gondomar, para onde foram transferidos 10 doentes. Já antes tinha recebido idosos infetados com covid-19 de um lar. “Por uma questão de precaução e de gestão de recursos, no caso da situação assim o justificar, o Conselho Diretivo tem estado a contactar com outros hospitais privados e do setor social com o objetivo de aferir da disponibilidade destes para, nos termos da convenção, poderem vir a ser celebrados outros protocolos, em breve”, informou.

Da ARS de Lisboa não chegou resposta até à hora de fecho, mas os contactos com hospitais privados para sondar essa hipótese resultaram ontem numa recusa dos maiores grupos privados para receber doentes com covid-19 no imediato, avançou o Público. O presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), Luís Pisco, indicou ao jornal que os hospitais privados da região não mostraram disponibilidade para receber doentes covid no curto médio-prazo. “Têm uma actividade programada, fizeram os seus planos e não contaram com isso. Têm o mesmo problema que nós, se colocarem um doente covid numa enfermaria, essa enfermaria tem de ficar dedicada à covid”, disse Luís Pisco.

O i contactou os principais grupos privados para perceber as justificações para esta posição, não tento obtido resposta até ao fecho desta edição. Já o Ministério da Saúde não esclareceu como vai funcionar a transferência de outros doentes para os privados, nomeadamente nos hospitais onde já foi limitada a cirurgia programada, como é o caso do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, e se vão existir critérios nacionais para transferir doentes para cirurgia e consulta e em que circunstâncias.

Haveria capacidade para detetar 7 mil casos no Norte?

Uma projeção mais gravosa para a evolução da situação no Norte, revelada à Lusa por Milton Severo, responsável pelas projeções do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, indicou que o Norte pode chegar aos 7 mil casos diários na próxima semana.

Atendendo a esta projeção, o i procurou saber junto da ARS se existe capacidade de testagem na região para acompanhar um aumento de casos desta ordem ou se vai haver alguma priorização nos testes nos próximos dias. A nova estratégia de testagem da DGS admite essa hipótese, bem como o uso de testes rápidos, mas só entra em vigor a 9 de novembro.

A Administração Regional de Saúde do Norte sublinhou que “a implementação de medidas decretadas pelo Governo tem por objetivo evitar as cadeias de contágio e, assim sendo, esperamos que o número que refere não seja, de todo, atingível”, indicando que nesta fase estão a ser testadas diariamente aproximadamente 10 mil pessoas no Norte. A média de casos diagnosticados nos últimos dias, em torno dos 2 mil, significa que a positividade no Norte ronda os 20%, mais do dobro do valor a nível nacional (9,8% de acordo com o último dado fornecido ao i pela DGS).