Na República da Coreia Portuguesa

Nesta senda norte-coreana, o mais grave passou-se com o secretário do Planeamento que respondeu de uma forma ameaçadora, perfeitamente inqualificável – se fosse noutros tempos e de outra cor política ter-se-ia demitido no dia seguinte –, a um post de mau gosto do jornalista Camilo Lourenço. 

Está a tornar-se um clássico, mas esta rapaziada governamental não aprende. Os números da covid-19 vão disparar e até pode dizer-se que a falta de dinheiro para fazer testes em massa ajudou à festa. Mas estava na cara que vão todos pagar na mesma moeda, apesar de o país ter realidades completamente diferentes. Os adeptos do confinamento total vão ficar radiantes com o agravamento das medidas, mas é óbvio que tudo podia ter sido bem diferente.

O que se passou na Nazaré foi bastante emblemático. Milhares de pessoas foram ver os surfistas a enfrentar o célebre canhão da Praia do Norte e a Polícia portou-se como os antigos gratificados à porta das casas de alterne. Olhou para o lado, apesar de alguns conselhos.

Deixando a covid-19 para trás, voltemos ao clássico rosa que aparece já com um descaramento quase total. A nova modalidade é os ministros e ajudantes serem entrevistados por alguém contratado pelo partido na sede do PS ou na redação da Ação Socialista. Foi assim com António Costa e agora com o secretário Estado da Saúde. Nada como as perguntas serem mansinhas e favoráveis a uma narrativa cor-de-rosa.

Nesta senda norte-coreana, o mais grave passou-se com o secretário do Planeamento que respondeu de uma forma ameaçadora, perfeitamente inqualificável – se fosse noutros tempos e de outra cor política ter-se-ia demitido no dia seguinte –, a um post de mau gosto do jornalista Camilo Lourenço. Escreveu José Gomes Mendes, respondendo aos excessos do jornalista: «Basta. Nem tudo é possível em democracia. E o meu recado não é só para ele, é também para aqueles que lhe dão espaço nos seus canais informativos. Estou para ver se assobiam para o lado».

Calculo que o secretário de Estado, ao querer fazer censura e apelar ao despedimento de Camilo Lourenço, se julgue na Coreia do Norte ou em algum país islâmico onde os pecadores acabam sem cabeça. Quando alguém chamou «palhaço» a Cavaco Silva foram muitos os aplausos, agora por Camilo ter uma linguagem desbragada e com a qual não me identifico, mas aceito, um governante acha-se no direito de dizer que tem de ser silenciado?

Se no reino rosa já tudo é normal – João Soares deve estar a pensar por que teve de se demitir por causa da promessa de umas palmadas culturais a dois cronistas – o Presidente da_República segue a mesma linha? Não chama a Belém este arruaceiro e coloca-o na ordem? Ou ao Palácio de Belém só vão os campeões para serem agraciados?

Em Inglaterra, o Partido Trabalhista suspendeu o seu ex-líder, Jeremy Corbyn, por durante o seu mandato à frente do partido o antissemitismo ter ganho espaço e Corbyn nada ter feito para o travar – eventualmente até lhe deu gás. Por cá, os governantes podem comportar-se como o Zé das Bifanas que é igual.

P.S. 1 O que se está a passar em França é altamente preocupante e o destaque que se tem dado aos ataques a cristãos é nitidamente envergonhado. Com uma certa desculpabilização ou ausência de comentário, só se está a alimentar a extrema-direita, que vê nestes casos o clima perfeito para minar o campo da democracia. Mas quando temos o bispo do Porto, D. Manuel Linda, a defender que o atentado na catedral de Nice, em França, é o resultado dos «preconceitos» de europeus em relação aos outros povos, concluímos que o mundo está perdido e vai ser difícil salvar almas.

P. S. 2. As eleições do Benfica trouxeram uma excelente notícia: a votação de Rui Gomes da Silva, um populista que não mereceu sequer dois por cento dos votos. Ainda há esperança!

vitor.rainho@sol.pt