Os Açores causaram uma depressão ao PS

Desengane-se quem achar que não conseguir maiorias absolutas é culpa das lideranças de António Costa ou de Rui Rio…

O PS não tem maioria absoluta no Governo, o PS não tem maioria absoluta na Câmara de Lisboa e o PS não tem maioria absoluta no governo regional dos Açores.

Em 2015, o PS não teve maioria absoluta, mas conseguiu uma solução negociada estável no Parlamento com o PCP e o Bloco de Esquerda dando origem à ‘geringonça’. A meio da legislatura (2017), a Câmara de Lisboa foi a votos e o PS que havia tido uma maioria absoluta em 2013, perdeu-a, vendo-se obrigado a fazer uma coligação com o Bloco de Esquerda. Quando tivemos legislativas (2019), novamente o PS não conseguiu uma maioria absoluta, governando desde então sem maioria. Em outubro de 2020, o PS para as eleições do Governo Regional perde a maioria absoluta que tinha há mais de vinte anos.

Ou seja, desde 2015 o PS sozinho não conseguiu maiorias absolutas para as últimas duas eleições para o Parlamento, para a Câmara de Lisboa nem para o governo dos Açores.

Como há vários anos venho escrevendo, as maiorias de um só partido tornaram-se quase impossíveis. Mas esta realidade aplica-se simultaneamente ao PS e ao PSD – os dois únicos partidos que as conseguiram alcançar. Por vários motivos: porque já é assim na europa continental há muitos anos (onde nasceram partidos novos à esquerda e à direita); e porque mesmo aqui ao lado em Espanha (com um sistema estável de dois partidos idêntico ao nosso) já tínhamos assistido à afirmação do Podemos, Ciudadanos e do Vox.

Era só uma questão de muito pouco tempo até que acontecesse o mesmo em Portugal.

A pulverização política é o novo real político que veio para ficar: acabou o tempo de PS e PSD serem os dois únicos a governarem sozinhos à vez o país, as grandes Câmaras e os governos regionais.

E se é verdade que António Costa está desgastado e a governar há oito meses no meio de uma pandemia, se não fosse isto seria outra coisa qualquer uma vez que os ciclos políticos são cada vez mais curtos – basta olhar para o resto da Europa.

Desengane-se, porém, quem achar que não conseguir maiorias absolutas é culpa das lideranças de António Costa ou de Rui Rio. Os dois grandes partidos têm de interiorizar o fim das maiorias absolutas e uma nova forma de existir que passa fatalmente por uma política de alianças. No caso do PS e PSD, ou se coligam entre si (Bloco Central) ou se coligam com os seus partidos à esquerda ou à direita, respetivamente.

O caso dos Açores é bastante ilustrativo: a eleição de dois deputados do Chega e um deputado da Iniciativa Liberal, confirma a tendência nacional de crescimento desses dois partidos. E como a votação do PSD subiu, podemos aventar que esses três eleitos o tenham sido com votos resgatados à abstenção. Estes dois partidos vieram para ficar no sistema político português, pelo menos durante alguns anos.

Como disse um político português que ficou para a história: «Habituem-se!».