PSD já tem acordo para governar

PSD chega a acordo com CDS e PPM para governar nos Açores, mas falta negociar com o Chega. ‘Chicão’ pressiona solução de direita para travar acordo com os socialistas.

O acordo entre sociais-democratas, CDS e PPM está praticamente fechado e deverá ser aprovado este sábado pelo Conselho Regional do PSD. Uma semana depois de o PS perder a maioria absoluta nas eleições regionais dos Açores e depois de muitas conversas entre os partidos ganha peso a ideia de uma gerigonça de direita. José Manuel Bolieiro está a preparar uma solução que pode passar por um acordo escrito com centristas e PPM que entrariam para o governo regional. Com o Chega, Iniciativa Liberal e PAN vai negociar um acordo para que o executivo seja viabilizado no Parlamento.

A semana foi agitada com conversas ao mais alto nível entre os vários partidos. Qualquer solução passa pelo apoio do CDS. Vasco Cordeiro não tem apoios suficientes à esquerda e os socialistas reuniram esta semana com os centristas à procura de um acordo sólido. O mesmo fez o PSD que quer apresentar um acordo escrito ao Representante da República.

A posição dos centristas a favor de um Governo de direita não é alheia à pressão da direção nacional que nem quer pensar na hipótese de o partido apoiar um Governo socialista.

Francisco Rodrigues dos Santos entrou em cena para avisar que «espera que haja um Governo de direita» nos Açores. «Não será certamente por culpa do CDS que não tiraremos o PS do Governo regional dos Açores», garantiu.

A declaração foi feita depois da reunião entre os socialistas e o CDS. Artur Lima, líder dos centristas na região, tem uma boa relação com os socialistas e a direção nacional quis travar qualquer tentação de um acordo que viabilizasse um governo liderado por Vasco Cordeiro.

Francisco Mota, líder da Juventude Popular, também se manifestou a favor de um acordo entre os partidos de direita. «Os Açores foram a eleições e os açorianos fizeram as suas escolhas: não querem mais um Parlamento à esquerda e votaram numa mudança de paradigma político. Este será um momento importante para o país perceber a utilidade dos partidos políticos à direita e se estes estão disponíveis ou não para responder aos portugueses», escreveu, nas redes sociais, o líder da JP.

As declarações públicas não têm sido muitas numa altura em que os partidos estão a negociar. Pedro Nascimento Cabral, vice-presidente do PSD/Açores, assumiu, porém, esta sexta-feira, que o PSD tem «a responsabilidade de formar Governo, aliando-se aos partidos do seu espetro político, e assumir uma nova forma de desenvolver a Região Autónoma dos Açores».

Num texto publicado no Facebook, o social-democrata escreve que os sociais-democratas não podem ser coniventes com «a possibilidade de Vasco Cordeiro continuar a liderar os destinos da nossa região autónoma, com os infelizes resultados que todos nós já conhecemos, sob pena de perder toda a sua credibilidade e, na sequência, o eleitorado que lhe confiou o seu voto».

Com o acordo praticamente fechado com o CDS e o PPM, os sociais democratas têm ainda outras barreiras a ultrapassar para conseguir apresentar uma solução sólida. É preciso ainda o apoio do Chega e da Iniciativa Liberal para atingir os desejados 29 deputados.

Os liberais não viabilizarão um Governo socialista e não deverão travar uma solução entre os partidos de direita. Nuno Barata, coordenador do partido na região, garante que  «a Iniciativa Liberal teve um mandato para ser a oposição e, como tal, será a oposição ao socialismo».

Mais complicado pode ser negociar com o Chega. André Ventura começou por rejeitar alianças, na noite eleitoral, mas uns dias depois abriu a porta a negociações.

Entre as exigências estão reduzir para metade, nos quatro anos de legislatura, os beneficiários de Rendimento Social de Inserção e um plano regional de luta contra a corrupção e clientelismo.

Um acordo à direita não pode dispensar o Chega. «Devo afirmar hoje, como sempre, que atitudes extremistas e populistas não me comovem, nem creio que interessam aos açorianos, mas também acho que os açorianos já deram provas, e os seus representantes, de que não são extremistas nem populistas», disse o líder, na noite eleitoral, quando questionado sobre a inevitabilidade de uma aliança com o Chega para construir uma maioria de direita.

 

PS tenta acordo com CDS

Os socialistas governam a região há 24 anos e falaram com todos os partidos, com exceção do PSD e do Chega, para encontrar uma solução estável.

Carlos César, presidente do PS, defendeu que o PS deve governar a região, mesmo sem maioria, e não acredita que a direita tenha condições para apresentar uma solução estável. «O PSD só poderá constituir Governo com cinco partidos e associado por alguma forma ao Chega. Será capaz de chegar a tanto? E, mesmo que assim chegue, por quanto tempo?», escreveu, nas redes sociais.

Para o ex-presidente do governo regional, Vasco Cordeiro tem «uma missão complexa à sua frente para formar Governo», mas deve encontrar «uma solução de estabilidade e de segurança para os Açores».

Essa solução só é possível com os centristas e Carlos César lembra que «o CDS é, historicamente, um interlocutor privilegiado do PS na região, num diálogo continuado e com provas dadas».

Mesmo que o PS quisesse fazer um acordo à esquerda este não seria possível. O_Bloco de Esquerda elegeu dois deputados, mas o PCP perdeu o único que tinha. Mesmo com o PAN ficaria a um deputado da maioria.

O_PCP acabou por ser um dos grandes derrotados. Jerónimo de Sousa justificou este resultado com «a dispersão de candidaturas» e com «as acrescidas dificuldades que a epidemia colocou na construção da campanha da CDU, que tem na participação e no contacto direto elementos centrais no esclarecimento e na mobilização».

Já os novos partidos têm motivos para voltar a festejar. Chega, Iniciativa Liberal e PAN elegeram pela primeira vez. Destes, o partido de André Ventura foi o mais votado com cerca de 5%.

Não conseguiu, porém, ultrapassar o CDS e ser a terceira força política, como pretendia o líder do Chega.

Liberais e PAN ficaram perto dos 2% com um deputado.