Entrevistas por tu

No meu tempo não havia cursos de jornalismo, e eu sou de Direito, onde tive como assistente de Economia o Marcelo Rebelo de Sousa. De qualquer modo aprendi que, para dar maior credibilidade às entrevistas, os entrevistados, por muito íntimos que fossem, nunca deviam ser tratados por tu. A cerimónia e a distância deveriam ser…

por Pedro d'Anunciação

Recordo que no meu primeiro emprego, no Expresso, ainda era um miúdo quase de fraldas, aprendi o essencial do jornalismo como o faço com Francisco Balsemão (então director), Vivente Jorge Silva e Marcelo Rebelo de Sousa. Tive alguns trabalhos de TV e rádio –  normalmente entrevistas e comentários.

No meu tempo não havia cursos de jornalismo, e eu sou de Direito, onde tive como assistente de Economia o Marcelo Rebelo de Sousa. De qualquer modo aprendi que, para dar maior credibilidade às entrevistas, os entrevistados, por muito íntimos que fossem, nunca deviam ser tratados por tu. A cerimónia e a distância deveriam ser cultivadas.

Há dias vi na SIC Clara de Sousa a entrevistar Ricardo Araújo Pereira. Ela tratou-o sempre por tu, sem a menor contemplação. Ele respondeu sempre sem dar confias, por você (sem usar a palavra você, evidentemente).

Alguém me explicou que era pela diferença de idades: ela visivelmente uma velhota, sem se importar com isso, e acentuando-o até. Ele um jovem, e viver esse estatuto respeitosamente.

Mas no jornalismo as idades não contam, e pessoas da mesma profissão tratam-se até por tu. Não foi o caso, claro.